sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Réquiem para Joaquim

Réquiem para Joaquim
Por Alexandre Nicoletti Hedlund


I – os desacertos de Colombo

Badaladas se ouviram ao fundo, no total de nove. A noite de um calor intolerável, úmido e pegajoso, penetrava nos poros, agredindo o corpo.

O ventilador titubeava em fracos ciclos, não conseguindo nada além de causar maior calor ao ambiente. As luzes estavam apagadas para, numa tentativa vã, diminuir a insuportável sensação.

Colombo fazia apenas o necessário para existir, espreguiçando-se, de vez em quando, com movimentos lentos para evitar maior desgaste. Surpreendi-o contemplativo, mas ele pouco caso fez de mim. Recostou-se novamente e assim permaneceu, como uma estátua de mármore, na direção do horizonte.

Ofereci-lhe uma boa dose de Whiskey, mas ele sequer dirigiu seu olhar em minha direção.

“Talvez seja o calor”, pensei comigo, afinal ele não era de negar tal oferta.

Levantei-me da cadeira, sentindo parte do corpo restar nesse espaço, devido ao suor que já havia me ligado as suas formas.

Embora o silêncio imperasse no ambiente, fitei Colombo com o canto do olho esquerdo e senti que me acompanhava com sua cabeça. Sua natureza me era estranha, pois distante da minha, ainda que habitássemos a mesma caldeira que eu modestamente chamava de lar.

Subi para o quarto, passando através desse em direção ao banheiro, onde pretendia refrescar um pouco minhas ideias. Foi nesse momento que tive a visão de Helena que, protegida pela moldura branca da janela de seu quarto, do outro lado da rua, despia-se.

Seduzido pela imagem, fui desenhando com os olhos cada curva que ela me permitia, sutilmente, contemplar. Estava hipnotizado pela beleza de Helena quando levei um susto, ao sentir os passos de Colombo na direção de minha porta. Mesmo sem ter sido convidado, ele parou ao meu lado, contemplando comigo a inocência de Helena em revelar-se sem ser notada.

Terminei minha dose e suspirei, imaginando se Colombo também estaria pensando o mesmo que eu. Confirmei essa intuição quando ele começou a latir na direção de minha admiração que ouvindo o barulho, tratou de fechar as cortinas de seu quarto. Por um instante eu o odiei, pois havia quebrado o encanto daquele momento. Mesmo assim, mantive a calma e pedi que ele se retirasse do quarto. Em sua sabedoria, ele pareceu reconhecer o erro e saiu lentamente, meio cabisbaixo.

Um comentário:

  1. adorei chegar aqui. vi que é professor de penal! que legar ter um blog!
    um beijo doce e apareça nas abobrinhas!
    Roberta

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