terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Cortejo

O Cortejo
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

Enquanto o cortejo passava
ao fundo se ouvia Verdi
na marcha incessante de Macbeth
lutando contra a vil matilha
de perversos traidores seus

Enquanto o cortejo avançava
ao fundo se ouvia uma criança chorando
os aborrecimentos por ser criança
mas a mãe não lhe podia consolar
pois estava vibrante com o cortejo

 Enquanto o cortejo cantava
a multidão se entorpecia pelo insano marchar
e a cada passo adiante se fazia ouvir
de lado a lado dos prédios tão altos
que ecoavam ao longe, oh grande cortejo!

 Enquanto o cortejo dançava
com seus braços um mar infinito de mãos
a jovem senhora do outro lado da rua parou
recostando-se na parede de uma boutique
onde nunca pudera entrar, por temer os olhos dos outros

Enquanto o cortejo anunciava
o motivo de tanta alegria
a multidão que hoje ali estava
apenas seguia o cortejo
honrada por tudo ignorar

Enquanto o cortejo se arrastava
percebi um moço tão triste, cabisbaixo até
em sua roupa humilde, já suja e levemente rasgada
estampava-se aquilo que o cortejo 
por ser alegria e festa, preferiu ignorar

Enquanto o cortejo gargalhava
eu vi tal pobre moço chorar,
segurando sua vassoura na mão
aguardava o cortejo encerrar
para que assim pudesse limpar o lugar

E quando o cortejo cansar
dessa festa incontida que a todos só sabe chamar
os que hoje choram em silêncio
esquecidos nos cantos da rua
serão mais de mil guerreiros
todos sempre a desfilar

Mas até lá, aproveite o cortejo
que a todos só sabe encantar
pois não há fome, nem tragédia
não há tristeza ou imoralidade
não há crueldade que perdure
enquanto o cortejo passar.

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