sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011

2011 está aí e não vou fazer grandes comentários...

devido a uma pane no blogspot não consigo descobrir quantos corajosos tem acessado o blog...
de qualquer forma não tive muito tempo para redigir poemas, devaneios e terminar meu conto.

Muitas ideias e histórias/estórias surgiram e estão armazenadas em minha cabeça, além de rascunhos e mais rascunhos do que tenho ouvido das pessoas que encontro, transformando e lapidando tantos transeuntes em personagens.

Aos que se interessarem pelos próximos passos deste humilde transeunte, aguardem, pois 2011 promete muitas novidades.

Ok, isso é de praxe, imaginar que tudo que não se resolveu nos anos anteriores, resolver-se-á no que se inicia adiante, mas confesso, que estou mentalizando energias positivas para tal tarefa.

Para mim, pelo menos, espero que seja fantástico. Para vocês? que também seja, pois não dá pra desejar coisas boas só pra gente, é necessário ser humano, solidário, caridoso, e compartilhar a alegria e afastar a tristeza de nossos semelhantes.

Abraços e que venha 2011.

Alexandre.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Presente

O Presente
por Alexandre Nicoletti Hedlund
Que presente é esse que tu gastas com tolices
que se reduz a esperar o futuro
que se corrói em viver do passado?

Que presente é esse que passa em silêncio
enquanto te preocupas com coisas que não se resolvem
sem que tu resolvas mudar o ponto de perspectiva?

Eu lhes digo, meus caros, é um presente pequeno...
é algo para ser trocado na grande loja da existência...
e é pequeno no sentido do menosprezo
do pouco valor que lhe agrega na vida

Por isso, reveja, antes de sair da loja
qual presente pretende carregar contigo
dê valor as pessoas e respeite-as
caridosamente, humanamente

Alguém disse que somos a imagem
de um ser superior, e fizeram-nos crer nisso
Creio que somos mais que imagem
somos o som, o olhar, os gestos

ousadia? desaforo?
Não, de forma alguma...

Acho que temos poder e força para ser igual ao Pai celestial
quando fazemos o bem para as pessoas, nos conectamos com essa força superior
Nessa situação, somos imagem e semelhança
do contrário, somos apenas pó, cinza, e nada mais...

Por isso, reveja, antes de sair da loja
se escolhestes com sabedoria o presente
pois o futuro não te pertence, o passado já não lhe está nas mãos
tens apenas o presente, dádiva incomensurável
desde que saiba aproveitá-lo e transformá-lo

Aceita o presente, presente nesse devaneio,
pois lhe ofereço apenas a dúvida...
as certezas encontrarás em teu coração.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Réquiem para Joaquim - Capítulo VII

Após algum tempo sem tempo para escrever, resolvi retomar a história de Joaquim. Faltam ainda 3 capítulos que pretendo fechar até o final do ano. Espero que gostem e peço a gentileza de comentarem, pois é bacana ler os comentários dos amigos, seja pelo msn, pelo email ou por aqui. Abraços, Alexandre.

VII – Paris tem dessas coisas, coisas que talvez só aconteçam em Paris
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

As poltronas velhas de couro marrom, confortavelmente, recepcionaram Guilhermo e Colombo que, lado a lado, me olhavam em silêncio contemplativo. Para mim era estranho ver Guilhermo depois de tanto tempo, com sua respiração cansada, um bigode espesso, uma calvície proeminente, mas olhos vivos, como se ainda tivesse vinte e poucos anos - olhos de aventureiro. Fui tomado por tamanha alegria em tê-lo na minha frente, que não conseguia achar palavras que fizessem sentido. Ficamos assim, em silêncio por um tempo, observando cada mudança que o sábio passar dos anos havia produzido em nossos rostos e mãos, até que – por coisas que não se pode explicar – uma grande gargalhada irrompeu o silêncio, como se tivéssemos lembrado da mesma coisa ao cruzar os olhos.
Guilhermo então se recostou melhor na poltrona.
- Joaquim, meu irmãozinho, que vida hein!! Você lembra quando Mercedes fez aquela festa surpresa?
- Como esquecer, Guido? Como esquecer. Você com cara de bebê assustado quando todos apareceram no seu quarto, e o susto de todos em ver você só de cueca?
Rimos e choramos, lembrando de tantas lembranças doces do passado, de um passado sem maldade, mas no fundo eu sentia e nunca pude lhe confessar, queria tanto Alicia comigo. Como um bom amigo, Guilhermo sempre soube disso e, respeitosamente, preferiu nunca atestar algo tão latente.
Colombo ao meu lado acompanhava tudo, como se estivesse conhecendo finalmente um Joaquim que viveu, que amou, que lutou e que com o tempo se resignou em ser só. Pude ver em seus olhos, ainda que não tivesse dito nada, que ele me admirava e queria que eu retomasse tal vida.
- O que lhe traz aqui? – perguntei a Guilhermo, pois passada a emoção inicial, a razão exigia um convencimento para tal visita.
- Preciso de você. Fui convidado a participar de um projeto em Paris e preciso de um engenheiro como você.
- Paris? Não posso ir. – disse rispidamente, ainda que não fosse a intenção ofendê-lo.
- Irmãozinho, o tempo passou, o outono se aproxima e quero você ao meu lado.
- Não Guido, não vou. – respondi agora em um tom sério.
- Joaquim! – Guilhermo me olhou com certa repreensão – Você vai!
- Guido, você sabe que eu e Paris não combinamos, eu nasci para viver nesse samba-bossa nova sempre triste.
- Há bossa nova em Paris, ou você se esqueceu de Baden? - Rimos (ele largamente, eu meio nervoso).
Confesso, meus caros, que meu coração atônito sofria com o simples sussurar: “Paris”!
- não posso ir e ponto final. Tenho compromissos por aqui, tenho Colombo que depende de mim, muitas obras para olhar, minhas plantas para regar, meu jardim para organizar, um projeto na zona sul para iniciar. Ou seja, não posso, e não insista. Olhe Colombo! Como vou deixar ele aqui?  – Colombo olhou reprovando minha fala, em uma postura típica de defesa de Guilhermo.
- Eu lhe devo essa, meu irmãozinho! Você precisa se livrar dos demônios que lhe deixam tão triste, eu lhe devo isso!
- Você não me deve nada, não seja tolo, Guilhermo! Se eu ajudei você em algum momento, foi por amizade, jamais por contrapartida e você sabe.
Lembrei-me de quando eu havia retirado Guilhermo da cadeia em Maracaibo. Das dificuldades para conseguir o dinheiro da fiança e a alegria dele em me ver na rua.
- Eu sei, por isso lhe peço perdão por insistir nisso, mas preciso de você. Salve-me outra vez, talvez a última.

Levantei e servi duas boas doses de whiskey. Entreguei a dose de Guilhermo em sua mão e pedi um tempo para refletir, indo até a sacada. Meu olhar se lançou no horizonte daquela cidade quente, que sem muito vento apenas produzia mais calor. Quando a dose tivesse terminado, esperava ter uma resposta para ele. E como se fosse um oráculo, no final da dose tive uma visão do que deveria ser feito.
- Tenho uma condição, Guido! Apenas uma.

Duas semanas depois aterrissamos em Orly.
Eu ainda estava desconfortável por voltar depois de tanto tempo, mas olhando ele com seu caminhar elegante, me senti na obrigação de rir. Paris parecia seu lar, sua pátria e a cada “bonjour” ele fazia um gesto cordial com a cabeça.
- Você é uma figura Joaquim!! Trazer o Colombo junto! E eu louco, por aceitar! – Guilhermo completou meu pensamento, enquanto caminhávamos em meio aos plátanos do Champ de Mars.
Colombo continuava elegante, em sua marcha, cumprimentando os transeuntes.
Sentamos em um banco e a atmosfera parisiense fez seu trabalho, incrustando em meu peito um sentimento perdido no tempo, um conjunto de memórias perdidas, uma bossa nova que teimava em tocar e a lembrança de Sophie.
Guilhermo, sábio por sua própria natureza, chamou Colombo para o gramado e permitiu que, em silêncio, eu vivesse novamente Paris. Sentado naquele mesmo banco, pude ver Sophie se aproximar com seus olhos verdes e um cachecol cinza que apenas desenhava seus cabelos castanhos no vento.
- Ma petite fleur! O que você traz escondido de mim?
Sophie ria o sorriso mais puro que eu vi em toda a vida e, agarrado em tal memória, quase senti encostar seu braço.
- Ma douce! - Ela respondeu – eu não tenho nada nas mãos!
- Sophie, seus olhos não me enganam! Que surpresa você tem ai? – ríamos o apaixonamento.
- Joaquim, seu bobo! – aquele português mal falado, respingado de um francês tão lindo, me corta a alma até hoje, apenas por estar na lembrança!
Sophie passou a mão em meu rosto coberto por uma barba rala que teimava em se fazer presente, enquanto a neve tornava Paris uma pintura digna do Louvre. Levantei e fui em sua direção, enquanto ela apenas tentava não sorrir sua arte e esconder as mãos. Mas tomada por um sentimento maior, não se conteve e me abraçou e nos beijamos protegidos pelo fim de tarde, enquanto ao longe se ouvia um jazzista de rua, desses que não deram certo, mas que cintilava um Stan Getz tão verdadeiro desses de se querer viver.
Aproveitando sua encantadora distração, peguei de suas mãos o objeto secreto. Eram entradas para uma apresentação de Luiz Bonfá. Embora eu admirasse a beleza da música dele, Sophie parecia mais animada ainda. Os franceses sempre amaram a bossa nova.
Enquanto eu a agradecia com um carinho em seu rosto levemente gelado pela neve, ouvi um latido muito familiar.
O sonho se dissipara em meio ao latido de Colombo. O vento gelado daquele final de tarde de outono me trouxe a triste realidade. Colombo sem muito entender, parecia me alertar que o relógio não havia parado de seguir sua eterna marcha para que eu pudesse me recompor de minhas fragilidades, derrotas e tristezas. Pelo contrário, parece ter me jogado para um futuro que não foi planejado ou que não foi organizado para assim acontecer.
- Como foi? – perguntou Guilhermo, admirando-me ao longo de todo esse tempo.
- Foi doce e perfumado como uma flor, a minha petit fleur. – respondi em meio a algumas teimosas lágrimas.
- Talvez ela não...
- Vamos embora, vamos para o hotel! – cortei rapidamente as hipóteses de Guilhermo ao tempo em que limpava meu rosto.
- Mas Joaquim, isso não é certo! Talvez ela tivesse culpa!
- Guido, não seja tolo, homem! Ela não foi! Eu esperei por ela tanto tempo, e ela nunca mais apareceu! Ela me deixou, abandonou o amor que eu quis lhe dar.
- Meu irmãozinho, meu caro Joaquim! Muitas coisas podem ter acontecido! Ela pode ter...
-Esqueça Guido! Não vim até Paris para lembrar de Sophie!
- Mas Joaquim! Talvez tenha sido um desentendido!
- E você acha que eu não pensei ao longo de todos esses anos, em várias coisas que pudessem explicar Sophie não ter mais aparecido! Eu pensei demais e sofri demais, e por isso não queria vir, pois sabia que esse turbilhão de pensamentos sobre ela voltaria! Por isso eu não queria vir.
- Mas Joaquim...
- Sem “Mas...”, Guido! vamos para o hotel!
E, assim, fomos, os três, para o Hotel Cluny Sorbonne. O taxista não estava com um cara muito amigável, mas um dinheiro extra fez Colombo se sentar confortavelmente, enquanto o homem dirigia seu carro pela noite de Paris, resmungando alguma coisa e cortando as preferenciais.
O Quartier Latin tivera uma aura tão linda no passado, mas hoje se rendia ao consumismo dos turistas. Era uma pena, mas Paris ainda é Paris, mesmo com tantos turistas, e, por isso, fiz questão da hospedagem ser ali, pois ficava próximo ao Jardim de Luxemburgo e Colombo precisava passear todas as manhãs para manter-se forte.
Liguei para a recepção do hotel e pedi uma chamada para o Brasil. Não sei dizer o porquê, mas precisava falar com meu irmão. O telefone tocou até cair a ligação. Infelizmente, pelo menos para mim, Victor não tinha telefone celular. Ele era desses professores de história que não aceitava tal tecnologia. Acho que no fundo ele estava certo, pois não se deixava prender pelo aparelho.
Conforme o tempo passava comecei a achar estranho que nossa adaptação a cidade envolvesse pontos estratégicos que Guilhermo sabia me lembrariam Sophie. Foi no terceiro dia que constatei que ele havia me enganado. Não tínhamos nada para fazer em Paris, a não ser um reencontro com meu passado.
Colombo acompanhava a vida pela janela do quarto enquanto eu me dirigia a um banho quente. Achei engraçado ver ele tão bem, como se estivesse em casa e com seu olhar ele agradecia pelo passeio. Na verdade eu não cogitei deixá-lo, pois sua idade já começava a lhe pesar.
A água caía sobre meus ombros. Fechei os olhos e comecei a cantarolar uma bossa nova apenas para relaxar. Eu estava cada vez mais tranquilo quando ouvi um sussuro, como se fosse em meu ouvido: “Eu não lhe deixei, ma douce”.
Abri os olhos assustado e estava sozinho, ouvindo apenas o barulho de meu coração que quase saltou pela boca. Fechei os olhos novamente na esperança de outra vez ouvir aquela voz, mas nada aconteceu.
Aquele pensamento percorreu minha cabeça durante a semana inteira e no final dela estávamos voltando ao Brasil. Era Sophie, eu sabia, tinha certeza. Mas afinal de contas, o que significava isso? Estaria, depois de tudo, agora louco?
Era sexta-feira e tínhamos fechado nossa estadia no Cluny. Minhas malas já estavam no táxi. Lembrei de voltar ao quarto apenas para pegar um livro de Rimbaud.
Estranhamente o livro estava aberto, disposto sobre a cama que eu ocupara ao longo do tempo. Aproveitei o hábito que tinha desde criança de tudo olhar, tudo querer ler, mesmo que fossem segredos alheios. (Desculpem meus caros, é um hábito feio, podendo até ser mal interpretado, mas é um hábito que carrego desde a infância, não se podendo evitar, assim como não se evita a respiração).
Nessa disposição estava o poema[1]:
Pas les beaux soirs d’été, j’irai dans les sentiers
Picoté par les blés, fouler l’herbe menue:
Rêveur, j’en sentirai la fraîcheur à mes pieds:
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.

Conforme eu ia lendo, comecei a escutar novamente o sussuro, cada vez mais alto e vivo. Parei por um instante e fechei meus olhos. Foi como sentir Sophie em minha volta, sua respiração tranqüila que se acelerava perto de mim. Seu cheiro, seu gosto, era algo que não poderia explicar, tão forte a sensação que eu experimentava agora.

Abri meus olhos, em meio a lágrimas, e ouvi Sophie recitar os últimos versos de Sensation:

Je ne parlerai pas, je ne penserai rien…
Mais un amour immense entrera dans mon âme,
Et, j’irai loin, bien loin; comme un bohémien
Par la Nature, — heureux comme avec une femme!

Senti o beijo de Sophie em minha fronte, como que me desejando um bom retorno.
Era chegada a hora de partir, mas, de alguma forma eu sabia, que ainda voltaria. Algo dizia que eu deveria voltar. Estranho pensar assim, eu que sempre fui tão cético, agora acreditando em sinais, em bons presságios. Tive de rir sozinho, olhando pela janela, o taxista resmungava por não querer Colombo em seu carro. Guilhermo afinava uma discussão em francês. Acho que ele precisava mesmo da minha ajuda. Desci o elevador com um ar muito tranquilo. Pensei comigo, Paris tem dessas coisas, coisas que talvez só aconteçam em Paris.


[1] Nas belas tardes de verão, pelas estradas irei,
Roçando os trigais, pisando a relva miúda:
Sonhador, a meus pés seu frescor sentirei:
E o vento banhando-me a cabeça desnuda.
Nada falarei, não pensarei em nada:
Mas um amor imenso me irá envolver,
E irei longe, bem longe, a alma despreocupada,
Pela Natureza — feliz como com uma mulher.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

hoje caiu uma chuva digna de um poema...

hoje caiu uma chuva digna de um poema...
por Alexandre Nicoletti Hedlund


hoje caiu uma chuva digna de um poema...
e pensei se o poema já estava escrito antes da chuva
ou a chuva havia pedido um poema...

ainda não me decidi, mas apreciei a chuva, como se ela fosse o poema.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A vida é como a 9 de Beethoven

A vida é como a 9 de Beethoven
por Alexandre Nicoletti Hedlund

A vida é como a 9 de Beethoven: encantadora, mas nem todos conseguem apreciá-la.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Diálogos de dois transeuntes

Diálogos de dois transeuntes


- Oh transeunte, o que houve que não vi mais atualizações no teu blog?
- Opa, meu caro! tempos de reflexão... apenas isso...
- E o tal Joaquim? o que acontece com ele nesse próximo capítulo?
- hehehe... aguarde, ele está no forno, mas os tempos se direcionaram para outros projetos e missões...
- Missões? haha... vi seu devaneio do Eli, está inspirado é?
- com certeza que sim. Sabe que depois que escrevi aquele devaneio apareceram várias missões?
- Sério? que bacana, mas vai continuar a escrever?
- Claro que sim, pois é preciso, faz parte das missões... mas tenha calma, há tempo para todas as coisas debaixo do sol...
- Eclesiastes? sabendo...
- Exatamente, esse era o cara... 
- Vou nessa, tenho minhas coisas pra fazer também... boas missões e boa escrita!
- Agradeço! continue lendo o blog! Ele se alimenta de leitores...
- Hahahah.... está bem... 
- Fique com Deus e na paz dele, transeunte!
- Obrigado, você também, Transeunte indelével! Aliás, o que é preciso para ser, além de transeunte, um indelével?
- Simples! Apenas seja você mesmo, fazendo o certo e agindo de acordo com os preceitos de boa fé, de crença em Deus e nos outros. Nunca faça o mal, e ajude aquele que por ventura, tenha lhe feito mal.
- Você acha simples? hahaha...
- Passei a achar, e, principalmente, a acreditar mais no humano do humano, para lembrar de um amigo que escreveu sobre isso...
- Humano do humano... parece interessante...
- Sim, e é mesmo.... fique bem... até breve...
- até breve...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

2000 acessos!!!!

Melhor do que 2000 gols são 2000 acessos...

passado um mês e alguns dias, hoje comemoro os 2000 acessos, esperando que os próximos mil sejam tão rápidos que não se possa sequer ter tempo de contar.

Agradeço a todos que acompanham e divulgam o blog.

Fiquem com Deus.

Valeu!

Transeunte Indelével

domingo, 14 de novembro de 2010

Transeunte indelével ou Eli e o livro

Transeunte Indelével ou Eli e o livro
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

Não pretendo fazer aqui, confissões religiosas, muito menos pregações ou especulações.

Apenas me permito, nesse pequeno devaneio, compartilhar um pensamento que me surgiu em uma das minhas viagens para a casa de minha mãe. Por acaso, e nada mais que o acaso, havia assistido o filme "O Livro de Eli" com Denzel Washington. 
Enquanto caminhava pelas ruas de minha antiga cidade, passou-me pela cabeça um devaneio, e, de imediato, "saquei" uma foto. Agora confrontando com o Eli, noto um conjunto de semelhanças... até mesmo uma luz misteriosa... presença do livro...

Ainda que eu não trouxesse o livro de Eli (bíblia), ainda sim uma luz me acompanhava. Não se trata de um livro específico, mas dos pensamentos que me guiavam naquele momento.
 Assim, ofereço agora esse devaneio....

Será que não somos todos um pouco transeuntes ou Elis que, muitas vezes, não sabemos, exatamente, por onde andamos, ou que forças nos guiam, e cremos, mesmo sem "ver", em seguir um caminho?

O ato de viajar é revelador de uma vontade de novas perspectivas, de perceber a vida com outras lentes, com outras matizes, lançando novos olhares sobre os mesmos lugares.

Assim, acho que somos todos transeuntes nesse mundo, desde que queiramos mais...
que lutemos por alguns ideais, que façamos o bem ao próximo....
No filme, Eli se questiona, dizendo que querendo proteger o livro, esqueceu dos ensinamentos dele...
pois bem... quem sabe seja verdadeiro para todos nós...

Todos temos missões a serem cumpridas nesse lugar que chamamos de lar!
Mas é preciso aceitar a missão.
Qual será a sua?

Fiquem em paz...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Que dia para um suicídio!

Que dia para um suicídio!
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

Conforme o tempo passava, ao longo da noite
Chegou à constatação mais verdadeira
Que um poeta pode sentir
Pois, tendo secado seu pranto, sua dor
Resolveu-se, por certo, morrer

Mas como só se morre uma vez
É necessário se fazer tudo perfeitamente
Detalhe a detalhe cuidar
Sob pena de, assim não agindo,
Morrer de vergonha depois

Decidiu-se ao triste fim chegar
olhando carinhosamente seus erros
suas falhas, brigas e poucos acertos
e assim relutou em dormir
para contemplar o esplendor do céu

e adormeceu rendido pelo sono
que também quis lhe visitar
nessa última noite para se sonhar
mesmo que não dormisse muito, confessa
pois queria, o último dia, aproveitar

E que belo dia para ser o último!
Pensou consigo,
Um dia de amanhecer cinza
Mas que se enche de azul logo tão cedo
E merece ser vivido

E fez questão de caminhar pela manhã
Apenas para esticar um pouco as pernas

Depois, ligou para alguns bons amigos
Sem nada lhes dizer sobre o futuro
Mas falando carinhosamente a cada um
 de lembranças em comum
do respeito à amizade

Depois ligou para sua mãe, para seu pai
Ao seu irmão deixou para mais tarde
Mas faria questão de falar com todos
Pelo menos um pouquinho
para guardar consigo a voz de cada um

na hora do almoço, preferiu ir à igreja
aproveitar um pouco daquela serenidade
que incrivelmente
só se encontra lá,
não importa o credo.

Porém, temeu, que ao chegar ao céu
Já tivesse perdido a hora da refeição
E, por isso, preferiu ir a um bom restaurante
Onde teve certa dificuldade em escolher o que por no prato
Afinal, morreria sem nunca ter comido “arroz chinês”?

E, após a refeição feita em silêncio
Na qual pode contemplar transeuntes
Rostos e rostos que por ele passaram
Viu uma menina beijar o rosto do pai
E sentiu que ali havia amor

Saindo dali, resolveu-se a ir para casa
E autorizado por si mesmo
Optou em dormir um pouquinho
Coisa mais boa, poder dormir depois do almoço!
Que dia!

Leu um pouco, refletiu sobre a vida
Trabalhou em algumas coisas suas
Desistiu de outras que não queria mais carregar
Tomou uma dose de seu whiskey preferido
E se sentiu bem, por aproveitar tão bem seu dia

E quando entardeceu, tomou um banho
Saiu caminhar e pode ver o sol se pôr
Depois foi conversar com algumas pessoas
Onde encontrou em gestos simples
A compaixão de querer bem, por simples querer

Por último, dirigiu-se ao seu templo secular
Onde queria se despedir da vida boêmia
E lá, cercado de uma festa inusitada
Em que só se poderia celebrar a vida
E dar risada da morte

Ele finalmente percebeu
A maravilhosa dádiva que foi
Escolher o próprio dia para morrer
E que realmente havia aproveitado tanto
Tantas coisas que lhe faziam bem

Que dia para um suicídio!
pensou embriagado de alegria
e diante de tantas coisas boas
feitas a partir das escolhas do dia
é que decidiu, simplesmente

fechou os olhos, e com os braços abertos
diante da janela entreaberta
sentiu o vento lhe abraçar
e pode agradece em silêncio
Obrigado Deus!

E foi então que percebeu o presente divino
que se constitui em uma coisa tão singela
O poder de escolher os caminhos
Que fizeram de seu dia amargurado
Um belíssimo dia de recomeço

Cheio de vida!  - pensou consigo
E isso, fez toda diferença...
pois aproveitou cada instante
de cada dia, com cada pessoa
e apenas com coisas que lhe encheram de vida plena


e a morte? e o suicídio?
acalme-se, meu caro...
suicídio é a dúvida, trate de saná-la
morte? morre apenas quem não vive
jamais um transeunte indelével.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Das curiosas coisas da vida

Das curiosas coisas da vida
Por Alexandre Nicoletti Hedlund


Das curiosas coisas da vida
que eu já pude observar
uma das mais curiosas
é a capacidade humana
do improvável

Das curiosas coisas da vida
que eu só pude lamentar
uma das mais reprováveis
é a capacidade humana
do previsível

Esse ser humano
me prova a cada dia 
sua desnecessidade 
de tantas coisas necessárias

Esse ser humano
me testa a cada dia
demonstrando interesses
que não vão além da superfície

Das curiosas coisas da vida
está a caça superficial
deixando os grandes tesouros da alma
para um outro dia, para um porvir

Esse ser humano
me espanta a cada dia 
na sua arte do previsível
e mesmo assim
eu ainda acredito no humano

Curioso que não busque 
muito além do alcance da mão
cansando-se com pouco
perde a beleza do muito
mas 
perder e achar que está ganhando
é, talvez, o mais curioso
das curiosas coisas da vida

sábado, 6 de novembro de 2010

Réquiem para Joaquim - Capítulo VI

Segue abaixo o sexto capítulo desse pequeno conto.


Réquiem para Joaquim
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

VI – Saiba que eu o amei tanto quanto o tamanho dos mares


A chuva inundava meu mundo há uma semana. As ruas formaram pequenos lagos, depois lagoas, e, por fim, rios. Meus cigarros tinham terminado, mas eu não sentia vontade ou necessidade de abastecer minha pequena caixa de prata com tabaco e nicotina. A estação do cigarro talvez tivesse encerrado. Eu apenas precisava sair desse lugar. Olhei Colombo que estava deitado imóvel perto do sofá e lembrei-me de um pequeno bote que Clarice havia me presenteado, quando completei 38 anos. Imaginei Colombo como navegador de minha “Santa Maria” e passei a narrar-lhe a nossa promissora epopeia para fora dali, porém ele pouco caso fez de mim.

O tempo parecia escoar mais vagarosamente que a água pelos dutos da cidade. Ouvi o telefone tocar durante muito tempo, antes que eu conseguisse reunir forças para tirá-lo do gancho. Era Guilhermo Seamann. Meu velho amigo estava de volta à cidade para alguns negócios. O Velho Seamann era um de meus últimos amigos que haviam passado pelo crivo do tempo. Quando jovem atravessou as Américas em busca de respostas, mas, encontrou apenas doenças venéreas, problemas com a polícia e com o narcotráfico e uma mulher que mudou o rumo das coisas.

            Filho de um diplomata inglês e de uma socialite argentina, Guilhermo veio parar nessa terra esquecida por Deus no acaso mais incrível da história universal. Formado engenheiro pela Universidade Autônoma, a cabeça cheia de sonhos e algumas economias guardadas, resolveu cruzar a América latina construindo casas para os desafortunados.

Era uma manhã calma de outono, quando ele apareceu em frente a minha casa e me propôs em seguir sua inóspita viagem. Durante os oito meses seguintes, fomos companheiros em uma tortuosa e cheia de percalços jornada, que parecia não ter fim. Pelos cálculos de Guilhermo já havíamos ajudado a construir mais de duzentas casas. Eu nunca duvidei dele.

Mas as coisas estavam para mudar. Estávamos entrando em março, quando nossa condução parou em Maracaíbo. Dividíamos uma casinha de palafita em Santa Rosa, no norte da cidade. Éramos tratados como reis pelos locais e projetávamos grandes melhorias naquelas instalações sobre a água. Fazia um calor infernal naquela cidade que mudaria o rumo das coisas. Como se fosse a cena de um filme clássico em preto e branco, Guilhermo se viu encantado pela beleza de uma menina de longos cabelos negros e vestido branco que saía de uma mercearia. Caminhou em sua direção e um mês depois estava casado com ela: Senhora Mercedes Bolívar Seamann.

Desse momento em diante, Guilhermo não fazia nada além de amar aquela mulher, e cada um estava resoluto com suas propostas, ele em amar Mercedes, enquanto eu pensava em voltar ao Brasil. Foi por esses dias que o Coronel Lucio Bolívar Strada, um dos mais poderosos traficantes de Maracaíbo, homem temido por meio mundo, descobriu que sua “pequena flor do campo” havia casado com um estrangeiro. Guilhermo se viu em maus lençóis, mas assumiu compromissos com o Senhor Lúcio que eu, seu amigo e irmão, jamais conseguiria evitar que firmasse.

O próximo passo foi Guilhermo ter uma arma, seguranças e uma tatuagem que em castelhano dizia: “no me molestes”. Eu não o reconhecia e, assim, logo me afastei, indo morar com Alícia, uma cantora de um cabaret famoso da região: El Remedio.

Alícia era uma mulher madura e tinha 36 anos quando eu a conheci, mas apesar disso, existia tanta beleza e juventude em seu olhar que faziam dela nada mais do que uma menina. Antes de ser uma cantora charmosa, fora uma viúva triste que perdera seu amado em um acidente de carro. Ela trazia consigo uma cicatriz nas costas que jamais a deixaria esquecer o amor rompido pela fatalidade. Apesar de estar meio confusa, por um tempo, ela manteve sua essência e passou a cantar.

Eu a conheci numa dessas noites quentes que só se tem Maracaibo e ela me seduziu como se fosse uma sereia de Homero. Na época, eu tinha apenas vinte anos, e me deixei levar para seu quarto e para sua vida. Noite após noite, ela, gentilmente, tirava minha roupa, dobrava-a cuidadosamente e então me banhava. Depois me conduzia ao seu quarto e então, pela fresta da porta, eu a via se banhar. Depois, protegidos pela penumbra da noite, nós nos amávamos incansavelmente. Deitado em sua cama, eu notava um olhar de entrega, de um arrebatador apaixonamento, que não voltaria a existir tão cedo em minha vida.

E assim passaram-se os dias, as semanas e os meses. Durante o dia, eu trabalhava na construção de casas de um pueblo próximo, enquanto Alícia bordava incansáveis panos finos trazidos do estrangeiro. À noite, eu a acompanhava até “El remedio” para me entorpecer com sua voz e o vinho de Dom Castillo. Vivíamos felizes em nossa simplicidade. De tempos em tempos eu ouvia falar de Guilhermo, cada vez mais integrado ao faroeste violento de Maracaíbo.

Um dia li no jornal que ele estava preso e o senhor Bolívar Strada havia sido morto pela polícia em um terrível confronto com os narcotraficantes. Fui visitá-lo na cadeia. Guilhermo, após o susto inicial ao ver-me, chorou incansavelmente. Pedi que se acalmasse e então verifiquei junto às autoridades locais, como poderia tirá-lo de lá. Os próximos cinco meses foram de trabalhos dobrados, até conseguir o dinheiro necessário para sua fiança.

No dia em que as portas da cadeia municipal de Maracaíbo se abriram e Guilhermo sentiu novamente a brisa quente daquela cidade, ele me olhou com imensa gratidão e disse:
- Joaquim, meu irmãozinho! Eu jamais esquecerei o que você fez, e prometo que vamos embora daqui hoje mesmo. Mas antes, preciso achar Mercedes.
Apenas sorri e o abracei. Nada mais precisava ser dito.

Alícia estava reclamando há alguns dias de uma dor intensa em sua barriga, e havia vomitado sangue em todas as ocasiões. Diante dessa repentina sensibilidade, fiz questão de  aguardar o melhor momento para lhe contar as novidades sem deixar-lhe mais nervosa.
Naquela noite – última noite em Maracaíbo – Guilhermo e Mercedes dançaram tão formosamente, enquanto Alícia cantava e, eu sorvia uma garrafa de vinho. Quando a música acabou, todos aplaudiram de pé e Alícia veio sentar-se ao meu lado. Em seu ouvido confidenciei:
- é chegado o momento, minha flor.
- como assim? – ela perguntou espantada.
- é chegado o momento de irmos para o Brasil, para iniciarmos lá uma nova vida. Minha jornada em Maracaíbo terminou.
Com seus olhos ternos ela me fitou por um instante, passando a mão em meu rosto.
- Joaquim, meu doce Joaquim! Por que você levaria essa velha contigo?
- Porque eu a amo, Alícia! Simplesmente por isso!

Alícia tentou evitar, mas algumas lágrimas borraram seu rosto pintado e naquela noite entramos no primeiro ônibus em direção a Caracas. A estrada e o clima estavam muito pesados, de forma que Alícia começou a passar mal, tendo vomitado por diversas vezes. Ao chegar a Caracas, eu a levei até o hospital mais próximo e, apesar de sua fraqueza, ela ainda resistiu por mais dois dias. Nesse meio tempo, antes do médico anunciar, ela olhou em meus olhos com sua ternura natural e disse:
- Joaquim, cuide bem de Henrique e diga que sempre o amarei.
- do que está falando, meu amor? – exclamei assustado, pensando que ela estava delirando.
Ela pôs suas mãos sobre o ventre:
- estou esperando um filho teu Joaquim, e, apesar de eu não sobreviver, gostaria que ele se chamasse Henrique.

Emocionado, beijei suas mãos, seu ventre, seu rosto.
- pare de bobagem mulher, nós teremos esse filho juntos.
- eu gostaria tanto meu Joaquim, mas não terei forças. Saiba que eu o amei tanto quanto o tamanho dos mares.

Seus olhos se fecharam, suas mãos ficaram leves e o último sono se aproximou sorrateiramente. Junto com ela, adormecia também Henrique. Guilhermo me abraçou em silêncio e fomos cúmplices dessa dor que nunca me abandonou. Desolado, apenas tive forças para enterrá-los em Caracas e então rumei ao Brasil com Guilhermo e Mercedes.

Arrebatado por essas memórias, não vi que a chuva havia passado e que um velho batia palmas em frente a minha casa. Usando engraçados suspensórios, Guilhermo gritava por mim e conversava com Colombo, que, impaciente, pulava de lado ao outro, anunciando nosso ilustre visitante. Nem tentei esconder as lágrimas do passado e do presente, abrindo a porta para aquele velho, que assim como eu, havia se achado e se perdido em Maracaíbo.

Guilhermo, sentindo que o momento exigia, abraçou-me fraternalmente. Por um instante, pensei ter ouvido a voz de Alícia, uma última vez, a me dizer:
- Saiba que eu o amei tanto quanto o tamanho dos mares.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A amizade do Rock


Tema de casa do meu amado filho, feito de improviso pela webcam em uma conversa sobre a amizade. A distância não nos impede que possamos criar, conversar e manter o espírito unido. Amo você meu filho, hoje e sempre.

A amizade do Rock
Por Alexandre Nicoletti Hedlund e Bernardo Bueno Hedlund

Pensei no que é ser amigo
e se existe uma explicação
para caber tanta amizade
dentro do meu coração

quando cheguei por aqui
escrevi meu nome num papel
eu estava voltando para Ijuí
e conheci o Rafael

construi minhas amizades
sem muita propaganda
e ai apareceu o Gustavo
querendo montar uma banda

o Gus quer a bateria
o Rafael diz que vai cantar
eu vou ser solo de guitarra
e outros amigos também vão tocar

queremos gravar nossas músicas
não vai sobrar cd no estoque
essa banda vai ser um sucesso
pois a gente só vai tocar rock

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Da série: A fotografia que contigo conversava...

 

Existem fotografias que nos despertam pensamentos, alegrias, sentimentos. 

Eis que algumas, em seu silêncio costumeiro, parecem querer conversar, trocar uma ideia, papear sobre o passado e o futuro...

Veja essa fotografia, quantas histórias terá esse velho para nos contar?

Confesso que ele já me contou algumas que rascunhei no poema que pretendo postar amanhã...



terça-feira, 26 de outubro de 2010

A luta contra o câncer de mama

 Nessas minhas caminhadas, transeunte que sou, encontrei uma causa pela qual todos devemos lutar, todos devemos divulgar, todos devemos colaborar. 

Por isso, indico os sites abaixo, alguns oficiais, outro de uma amiga querida que demonstra, a cada dia, mais vida e alegria.

            www.espacodevida.org.br


Ainda vou fazer um poema sobre isso, mas fica para outro dia... pois a luta continua... para além de outubro.

Abraços e se cuidem,

Alexandre.

domingo, 24 de outubro de 2010

Réquiem para Joaquim - Capítulo V

Segue abaixo o quinto capítulo desse pequeno conto. Minha proposta pessoal é escrever dez capítulos. Assim, agradeço aos leitores pelas cobranças pelos próximos capítulos.



Réquiem para Joaquim
Por Alexandre Nicoletti Hedlund


V – com todo o meu ser, quis voltar para as estrelas

Noite adentro, as horas avançavam como cães selvagens, mas isso não me causava espanto ou medo. Apenas não conseguia, simplesmente, fechar os olhos. Simplesmente. E, mais que simplesmente, os pensamentos rondavam a fumaça do cigarro que acendi. O último refúgio foi apoiar-me na janela e continuar a fumar. Apesar do calor da noite, a cidade estava silenciosa, e eu, Joaquim Rivera, apenas conseguia contemplar a imensidão do universo. Colombo ao meu lado, compartilhava tal vista. Em silêncio, dividíamos a fumaça do cigarro. Apenas dois corações partidos.

O quarto estava cheio de livros espalhados, montanhas e montanhas de papéis, que se acumularam com o passar do tempo. Mas essa disposição das coisas – magistral desorganização – fez parte de uma opção. Era cômodo ter tudo jogado sobre a cama para substituir a presença de quem não voltaria jamais. Com o tempo, foi uma opção não desfazer as malas e, depois, outra opção não fazer mais nada. A disposição das coisas não deixava dúvida sobre os erros ao longo da vida.

Colombo levantou-se, e saiu do quarto em sua velocidade habitual. Tenho que confessar-lhes, meus caros, que Colombo já tinha aproveitado várias primaveras e seu andar lhe atestava a maturidade canina. Respeitei seu silêncio ao sair.  Voltei a contemplar as estrelas.

Alguns quarteirões adiante, em um dos prédios que estragavam a beleza do horizonte, uma luz se acendeu. Pobre luz do corredor! – pensei comigo – querendo competir com as estrelas. Era uma pena, porém Colombo tinha perdido esse episódio também. Vislumbrei algumas pessoas subindo as escadas com certa dificuldade. Possivelmente, o elevador havia quebrado. Acompanhei aquela tarefa até que o timer da lâmpada deixou os pobres caminhantes na escuridão novamente. Imaginei um diálogo no escuro, cheio de raiva contra a escuridão que, inocente, continuou silenciosa, preferindo não se defender. Em uma tentativa de acendê-la novamente, é provável que a lâmpada tenha estragado, pois passou a piscar irritada.

Passei então a me questionar sobre coisas mais profundas de minha existência, dos amores perdidos, das flores partidas e de lembranças esquecidas ou apagadas pelo passar do tempo. A fumaça de um novo cigarro dançava tão bonita no contraste que fazia com o universo, que em seu esplendor me permitia ser seu observador. Por um instante, imaginei ser o único sujeito a contemplar tamanha beleza, contudo naquele velho prédio da luz que ainda estava irritada, uma pequena pontinha vermelha piscava de tempo em tempo. Quem seria o astucioso admirador que me ajudava a olhar o céu e suas estrelas?

Mais uma vez apreciando o céu, tentava compreender o porquê dos caminhos traçados ao longo da vida. E as estrelas brilhavam, sem nada a dizer. Hoje percebo que minhas mais antigas memórias estão ligadas ao céu estrelado, quando ainda era apenas um menino crescendo no interior, na pequena cidade, que cedo adormecia para logo despertar.

Certa noite, descobri, ainda menino, que era possível caminhar sem fazer barulho e desenhei um mapa que me levaria – ainda na escuridão da casa – até a janela da cozinha. Eu, então, deixei-me absorver por aquela pintura tão bela da lua que, em grande narrativa encantava todas as estrelas ao seu redor. Fitava atentamente cada estrela, imaginando se lá distante algum menino, curioso como eu, também, em passos silenciosos contemplava a minha estrela-lar.

Lembro que um dia, quando estava na casa de minha querida avó, ouvi admirado, sobre uma estrela especial: a estrela polar. Alguns a chamavam de ursa menor, e, em minha meninice, cheguei a imaginar um filhote de urso perdido no céu, mas sempre a brilhar. Feliz por minha admiração, ela então me confessou em segredo que os nossos antepassados, os piratas mais temidos dos sete mares, guiavam-se por essa estrela, pois ela sempre estava lá, sem nunca se mexer. E, garanto-lhes, meus caros, isso embalou muitos e muitos sonhos do menino Joaquim.

Naquele tempo, tudo era mais fácil, mas eu não sabia. Quisera que alguma estrela tivesse me alertado da graça em ser criança. Porém, as estrelas tinham essa beleza de se comunicar por seu brilho, por suas cores, mas nunca por palavras. E eu, só aguardava por um sinal, tentando imaginar-me pirata, em pleno oceano a navegar.

Mas, agora estava em meu quarto, tempos e tempos depois, absorto em reminiscências distantes, como estrelas. Por ironia da vida, o vento fez-se presente, rolando uma sacola, dessas que os mal-educados deixam na rua. Nessa dança mágica, meu olhar se perdeu e, somente se encontrou no letreiro de uma loja, em que piscadelas me aconselhavam: “tudo para um lar feliz”. Obrigado fui a sorrir, mas no fundo pensei comigo, como eu queria achar minha estrela polar, para que me auxiliasse a navegar por esses mares revoltos que precisava agora, aos 42 anos, enfrentar.

Talvez fosse a hora de dormir. Olhei novamente o firmamento, mas as nuvens, egoístas, como só elas poderiam ser, fizeram questão de encobrir o céu, não permitindo que eu pudesse tentar ouvir a história que a lua outra vez contava. E, nessa confusão de pensamentos e memórias, imaginei-me novamente menino, e, com todo o meu ser, quis voltar para as estrelas.

sábado, 23 de outubro de 2010

E se um anjo chorar

E se um anjo chorar
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

Um amigo me perguntou, se eu já havia visto um anjo chorar. Olhei para um lado, tentei disfarçar, sem nada lhe responder. Afinal, os anjos que conheço sempre estão a sorrir.

Sobre o vento

Sobre o vento
Por Alexandre Nicoletti Hedlund
22 de outubro de 2010

Em silenciosas noites
De tantas chegadas e partidas
De tantos copos vazios
De tangos que não se pode bailar

Uma luz rompeu a escuridão
Por entre as frestas esquecidas
Que resignadas consentiam
Que o vento pudesse passar

E ele, sabedor de tantas coisas
Que somente cabe ao vento conhecer
Infiltrou-se nessa câmara escura
Sem deixar-se fotografar

E numa dança enamorada
Seduziu as cortinas não-brancas
Pela poeira de tantos milênios
Verdadeira poeira estrelar

Ao longe, conversas se ouviam
Risos, passos, coisas assim
Então uma porta logo se abriu
Deixaram o vento escapar

E o vento logo se foi
Pois é livre sem nada temer
Pudesse ser como o vento!
e em cálidas noites voar.

E, espanta-me que tu não entendas
A eterna inconstância do vento
Não macule a sua essência
Não queira o vento mudar.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A boca do fogão

A boca do fogão
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

Acendeu-se a boca do fogão
E era maior do que chaleira
Fez-me pensar se no inferno
Haveria semelhante caldeira

Com comidas, garfos e pratos
A mesa tão bem disposta
Já não guardava espaço
Para alimentar nossas respostas

Assim se assinalou o porvir
Do cheiro tão forte do café
Do bater de colheres nas xícaras
Na esperança de se ter quem se quer.

Na agonia serena do pão
Que estalava sem muito esfarelar
Sentados frente a frente na mesa
Tivemos a sensação de tudo mudar.

E a boca do fogão não parava
De tudo e a todos aquecer
Mesmo que o coração esfriasse
Naquele escuro e silencioso entardecer

Depositou duas pedras de açúcar
Que afundaram no negro sabor
e a cada sorver envolto à fumaça
no peito reafirmava uma dor

Memórias tão tristes, esquecidas
em tantas histórias inventadas
dando um gosto amargo à vida
tal o suco de laranjas cansadas.

E o amargo café já esfriava
Sem nos permitir muito mais que ilusão
Pois nem o tempo silencia o calor da chama
Que a tudo observa, na boca do fogão.

domingo, 17 de outubro de 2010

Réquiem para Joaquim - Capítulo IV

Segue abaixo o quarto capítulo desse pequeno conto que tenho escrito em horários de folga.

Réquiem para Joaquim
Por Alexandre Nicoletti Hedlund


IV - Engraçado, hoje eu só me transformei em lamúrias


Nada mais correto do que desligar a televisão, diante de um noticiário que apenas repetia as mesmices do violento cotidiano dos centros urbanos. Ainda sentado na grande cadeira arranjada no centro da sala, pude observar o pó disposto nos móveis. Naquele momento, vi-me impulsionado a passar o dedo na estante, trazendo nesse gesto uma quantia considerável de sujeira, na constatação eminente da necessidade de limpar o móvel.

Por um instante, imaginei Fante[1] em seus questionamentos, mas tive de rir sozinho da inocente piada, pois Colombo estava no quintal. Embora sua maturidade sempre me impressionasse, percebi-o brincando com uma pequena bola verde. Aproveitei sua temporária distração para olhar um projeto que estava aberto em cima da mesa, afinal, Colombo não trabalhava e alguém precisava sustentar nossos vícios.

Fui virando lentamente a garrafa, ouvindo o magnífico som do Whiskey[2] ultrapassar a linha invisível que dividia o copo. O primeiro gole desceu rasgando minha garganta. Agora eu estava pronto para trabalhar. Aproximei minha banqueta da mesa e bebi outro gole, tentando apenas relaxar um pouco. Afastei algumas folhas para colocar o copo na mesa, porém percebi um livro isolado, que parecia me chamar.

De pronto identifiquei o livro, circunstância e demais contextos que envolviam aquela literatura. Movi a capa lentamente, e li a dedicatória feita por Laura, em letras tão bem escritas:

àquele que me impressionou na arte da literatura, um mimo como mostra de gratidão”

Fui jogado à esteira louca da memória e me vi em um antigo café, do centro boêmio da cidade, ocasião em que um perfume feminino rasgou o cenário, antecipando os toques dos sapatos de bico fino que adentraram ao recinto, ultrapassando rapidamente todas as mesas vazias, comprometidos que estavam com um objetivo. A mulher que os conduzia se chamava Laura.

Não haveria formas de descrever por completo quem era Laura. Uma mulher obstinada, sabedora de suas potencialidades e fraquezas, amiga e companheira da vida. Porém, totalmente indefesa – apenas uma menina – quando me via. De certo modo, meu olhar cansado, mas sincero, trazia-lhe paz e uma certeza.

Por muitas vezes senti uma mistura de ódio e lástima em sua fala, totalmente aniquilados e reduzidos a cinzas diante de um entreolhar que nos lançávamos. Essa era Laura. Uma mulher que me ensinou a arte de odiar e amar intensamente, mesmo que com isso tivéssemos de lutar a sangue e fogo, por nossa paixão. (Antes que seja tarde, preciso confessar-lhes, meus caros, que Laura já lhes é conhecida, ainda que com outro nome. Sim, meus caros, trata-se de Anita, e passarei a narrar-lhes a história desta forma, assumindo, por meu turno, a alcunha de Boris e, Colombo, se necessário for, de Napoleão).

Anita aproximou-se da mesa de Boris, e, embora ele já tivesse percebido toda a aproximação, disfarçou, inutilmente, que terminava de beber seu café. Anita colocou a mão dentro da bolsa, retirando cuidadosamente um livro, estendendo o braço singelo sobre a mesa e depositando-o próximo à xícara de café. Ainda de ponta cabeça, Boris percebeu que se tratava de um livro do Gabo. Em letras garrafais o título se estendia, “100 anos de solidão”.

– Trouxe esse livro para você, como um pequeno presente. – disse Anita, tentando não demonstrar o carinho que tinha por Boris.
– Agradeço pela lembrança, mas lamento informar, pois não tenho nada para lhe presentear em troca. – Boris, desconfortado por não saber se aquela era uma ocasião comemorativa, apalpou os bolsos de seu casaco, na vã intenção de achar qualquer coisa.
– Talvez você tenha esquecido Boris, mas esse livro é seu. – insistiu Anita.
– Sim, sim... agora é... afinal, você está me presenteando. – sorriu um sorriso debochado.
Com um olhar de pura seriedade, Anita lhe advertiu:
– Boris, eu não consigo acreditar! Você me deu esse livro há um ano e não consegue lembrar.

Boris sorriu com o canto da boca. Terminou seu café e então olhou carinhosamente para Anita, admirando-a. Depois do fatídico primeiro encontro, Anita  revelou-se outra pessoa. Obstinada em ter o amor de Boris,  provou-lhe que não era apenas uma capa bonita, mas, acima de tudo, que tinha um bom enredo e uma boa trama. Em pouco tempo, começou a discutir os livros, os filmes e as peças que Boris mais gostava. Em calorosas discussões sobre ópera ou sobre as obras de Shakespeare, demonstrou uma personalidade forte. Porém, passado esse ano, agora aparecia na frente de Boris para devolver-lhe o livro.

- Leia esse livro, está bem? – Disse Anita, sorrindo para Boris.

Anita deixou o livro em cima da mesa, virou as costas e saiu.

O golpe atingiu profundamente Boris. Por um instante, teve que sentar na cadeira de madeira a qual dava para a porta principal, ainda procurando entender o que estava acontecendo, embora já tivesse compreendido tudo. Em sua arte de moldar Anita conforme bem lhe convinha, Boris não percebeu que ela se afastava. A obra-prima não pertenceria ao seu escultor. Não havia mais nada a fazer.
  
Ainda sentado, deixou seus óculos caírem no chão, enquanto os olhos se enchiam de lágrimas, as quais lutou para que não o abandonassem, passando rapidamente as mãos no rosto para que ninguém o percebesse chorando. Pensou consigo: “engraçado, hoje eu só me transformei em lamúrias”.


[1] Referência ao autor John Fante, que, entre outros, escreveu o livro Pergunte ao Pó.
[2] Joaquim sempre teve sua preferência por beber Jack Daniels, que em sua grafia se diferencia dos demais, ou seja, a alusão ao “Whiskey” diz respeito a ele.