quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Confirmado: Paul McCartney toca em Porto Alegre em novembro


 

  EU VOU - EU VOU - escutar o Paul eu vou.....
Confirmado: Paul McCartney toca em Porto Alegre em novembro

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Réquiem para Joaquim - Capítulo II

Segue abaixo o segundo capítulo desse pequeno conto que tenho escrito em horários de folga.

Réquiem para Joaquim
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

II – “deve-se cuidar com o veneno para não morrer envenenado" 

Na grande tela, em frente à cama, um velho sentado na varanda constatava:

“Mesmo pensando que fazia o bem, ela apenas se machucava.” – Enquanto a menina apenas colhia algumas rosas, machucando-se com os espinhos.

Colombo parecia envolto pela trama, e, deitado ao meu lado, acompanhava as desventuras da bela atriz que interpretava uma jovem cega.

A escuridão do quarto era cortada pelos flashes de imagens que acompanhávamos cada um em seu ritmo. Eu já adormecendo, mas Colombo seguia a tudo vividamente. Aos poucos, meus olhos, enamorados pelas doses de whiskey, perderam outra batalha e o copo caiu ao lado da cama. Mesmo assim, Colombo não perdeu a concentração e garanto que assistiu ao filme até os créditos finais, embora não tenha me contado o que acontecera com a menina.

Muito cedo, eu já estava desperto e os benefícios ficaram evidentes, pois estava bem disposto, cantarolando uma bossa-nova qualquer, enquanto preparava nosso café da manhã. Colombo desceu as escadas preguiçosamente – como era seu costume fazer – e veio até onde eu estava.

 Às vezes, era surpreendido por pensamentos sobre a magnífica contradição presente na minha relação com Colombo, pois não consigo me recordar de um dia que nossos humores estivessem próximos.

Pensando bem, talvez no dia em que Clarice nos deixara fosse possível que ambos estivéssemos tristes. Eu por meus motivos, ele em virtude que Clarice havia levado Guigui, a Yorkshire Terrier que detinha seu coração canino. Ouso pensar que Colombo estivesse mais triste na ocasião, mas são apenas suposições.

De qualquer modo, éramos apenas dois solteirões que curtiam uma tremenda fossa, descrentes do amor e imunes aos venenos da paixão. Isso era algo velado e nunca tocávamos nos nomes de Clarice e Guigui. Lembro que, certa vez, Colombo teve um encontro no parque, mas foi algo superficial, sem grandes envolvimentos. Acho que as coisas para ele eram mais fáceis.

Para mim tudo corria mais vagarosamente, como medida necessária para evitar frustrações e sofrimento. Vez por outra, os amigos mais próximos tentavam apresentar algumas mulheres superinteressantes que, apesar de perfeitas, estavam solteiras. Porém, meu ânimo para tais “aventuras em busca do inexplorado” era no mínimo desestimulante e nunca passava de um primeiro encontro malsucedido em algum restaurante qualquer.

Geralmente eu dava um jeito de levar Colombo junto, como elemento surpresa e perfeita desculpa. Seu auxílio era muito mais que uma participação, aproximando-se de efetiva coautoria para estragar tais. Porém, em um encontro inusitado o desenrolar das situações foi diferente.


Tal fatídico até me fez lembrar aquele velho ditado: 

“deve-se cuidar com o veneno para não morrer envenenado”.

Não conheces? 

Tudo bem, o ditado não existe, mas eu achei que coube ao caso que pretendo contar.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Réquiem para Joaquim

Réquiem para Joaquim
Por Alexandre Nicoletti Hedlund


I – os desacertos de Colombo

Badaladas se ouviram ao fundo, no total de nove. A noite de um calor intolerável, úmido e pegajoso, penetrava nos poros, agredindo o corpo.

O ventilador titubeava em fracos ciclos, não conseguindo nada além de causar maior calor ao ambiente. As luzes estavam apagadas para, numa tentativa vã, diminuir a insuportável sensação.

Colombo fazia apenas o necessário para existir, espreguiçando-se, de vez em quando, com movimentos lentos para evitar maior desgaste. Surpreendi-o contemplativo, mas ele pouco caso fez de mim. Recostou-se novamente e assim permaneceu, como uma estátua de mármore, na direção do horizonte.

Ofereci-lhe uma boa dose de Whiskey, mas ele sequer dirigiu seu olhar em minha direção.

“Talvez seja o calor”, pensei comigo, afinal ele não era de negar tal oferta.

Levantei-me da cadeira, sentindo parte do corpo restar nesse espaço, devido ao suor que já havia me ligado as suas formas.

Embora o silêncio imperasse no ambiente, fitei Colombo com o canto do olho esquerdo e senti que me acompanhava com sua cabeça. Sua natureza me era estranha, pois distante da minha, ainda que habitássemos a mesma caldeira que eu modestamente chamava de lar.

Subi para o quarto, passando através desse em direção ao banheiro, onde pretendia refrescar um pouco minhas ideias. Foi nesse momento que tive a visão de Helena que, protegida pela moldura branca da janela de seu quarto, do outro lado da rua, despia-se.

Seduzido pela imagem, fui desenhando com os olhos cada curva que ela me permitia, sutilmente, contemplar. Estava hipnotizado pela beleza de Helena quando levei um susto, ao sentir os passos de Colombo na direção de minha porta. Mesmo sem ter sido convidado, ele parou ao meu lado, contemplando comigo a inocência de Helena em revelar-se sem ser notada.

Terminei minha dose e suspirei, imaginando se Colombo também estaria pensando o mesmo que eu. Confirmei essa intuição quando ele começou a latir na direção de minha admiração que ouvindo o barulho, tratou de fechar as cortinas de seu quarto. Por um instante eu o odiei, pois havia quebrado o encanto daquele momento. Mesmo assim, mantive a calma e pedi que ele se retirasse do quarto. Em sua sabedoria, ele pareceu reconhecer o erro e saiu lentamente, meio cabisbaixo.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Um punhado generoso de tal especiaria

Um punhado generoso de tal especiaria
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

Igor acordou cedo pela manhã e dirigiu-se para a cozinha com passos pesados, fruto de uma vida sedentária. Abriu a geladeira por costume, pois seus olhos ainda estavam cerrados e teimosos em abrir. Sentou-se a mesa e levou um susto ao ouvir o rádio-relógio ligar, tocando uma sinfonia qualquer de Wagner.

Agora, de olhos parcialmente abertos, viu a chuva começar a cair molhando a rua por completo. Em pé, em frente à janela, sorriu ao ver algumas jovens fugindo dos fortes pingos da chuva. Acompanhou as jovens com o olhar até perdê-las de vista ao dobrarem o quarteirão.
Voltou-se para a mesa e terminou seu café sem ao menos sentar-se.
Desligou o rádio e foi novamente ao seu quarto, pois precisava se vestir.
Igor se sentou na cama enquanto colocava os sapatos que estavam sujos. Irônico que apenas se lembrasse de limpá-los quando precisava deles.

Olhou-se no espelho, mas não havia muito que mudar em sua aparência cansada. Desceu as escadas e antes de sair acenou com a cabeça, em sinal de muito respeito, para o retrato de sua mãe, que estava disposto acima da lareira.

Já na rua, Igor caminhava entre os passantes, demonstrando certa dificuldade em conduzir seu guarda-chuva. Não lhe era difícil bater-se ou enroscar-se com os demais, num desastroso balé que era observado pelos cidadãos respeitosos que se exprimiam debaixo das marquises.

Igor silenciosamente praguejava contra toda a situação, mas era segunda-feira e ele tinha certa urgência em chegar à feira municipal. Dobrou a rua da Concórdia e teve de se ater ao cartaz em preto e branco na frente do Cine Lumière: Nostalghia de Tarkovsky.

Naquele momento tudo parou na vida de Igor e ele foi levado diretamente para 15 anos antes, quando foi assistir a tal filme com sua amada Katerina.

Absorto em suas memórias, Igor não notou passarem batendo-lhe no braço, gesto que fez seu guarda-chuva cair. Agora a chuva lhe molhava o rosto, mas Igor apenas via o sorriso de Katerina e o gosto de sua boca ao sorrir para ele. Teve a impressão de, novamente, tocar seus longos cabelos castanhos, perdendo sua mão entre tal mar cacheado de ondas.
O tempo passava, as pessoas passavam, mas Igor permanecia ali em frente ao Cine, sonhando com sua amada. De repente foi lançado para outra cena, viu-se saindo do Cine com Katerina que sempre lhe sorria, demonstrando tal afeto e entrega, compartilhando com ele comentários sobre a maravilha do filme.

Oh, Katerina! O coração de Igor estava em tuas mãos.

Foram até o café do outro lado da rua e discutiram tantas ideias, sonhos, projetos.
Igor, ainda parado na rua, via tudo acontecer novamente, e, por mais estranho que possa parecer, teve a leve impressão de sua imagem, no interior do café, ter lhe acenado, indicando uma grande alegria em vê-lo.

As lágrimas de Igor se confundiam com as da chuva e ele foi trazido de volta a fria realidade. Nunca mais entrara no café, embora a todos conhecesse como irmãos. Não lhe era mais convidativo desde que Katerina se fora pelos motivos que a fizeram ir.

Limpou o rosto e novamente com o guarda-chuva, apressou seus passos amargurados, para bem longe dali. O resultado foi um coração acelerado e um respirar ofegante que o conduziram por duas quadras até chegar à feira.

Andou por todos os lados, pegando aqui e acolá algumas coisas que pareciam próprias para se ter. Um pouco de tempero, algumas frutas da época e mais alguns vegetais. Alguém chamou sua atenção, mas ele não reconhecendo a voz, preferiu nem olhar. Continuou andando e a cada passo sua bolsa parecia mais pesada, mais cheia de coisas.
Estava quase no final dos estandes e seus braços não agüentavam mais carregar a bolsa, quando se deparou em frente a um senhor com grandes sobrancelhas e um bigode pintados de preto que abrindo os braços e lhe sorrindo disse:

- Eu lhe esperava, meu caro amigo!
- Esperava a mim? – perguntou Igor.
- Sim, a você, e apenas a você. – respondeu o velho.
- Mas o que tem para me oferecer, visto que não tem mais nada em cima de sua mesa ou pendurado ao longo de seu estande?
O velho riu uma gargalhada tão verdadeira de aquecer o coração.
- Igor, meu doce Igor! Já não está pesada tua bolsa?
- Sim, sim. Minha bolsa está pesada, mais do que o normal, de tal modo que quase não consigo conduzi-la apenas com uma mão. Mas como sabe meu nome?
- Igor, meu doce Igor! Eu já lhe esperava, lembra? – sorriu fraternalmente o velho.
- E então, o que tem para mim? – perguntou Igor em um tom desconfiado.

Igor tentava lembrar do rosto daquele senhor, e mil perguntas lhe passavam pela cabeça. Como aquele senhor que ele nunca vira antes, podia saber quem era e o que poderia ele lhe oferecer.

- Igor, que tal rever as coisas que adquiriu ao longo do caminho? Será que precisa de tudo o que trazes contigo?

- Mas hoje peguei menos coisas do geralmente venho pegar! Nada mais do que alguns temperos e frutas. Como poderia isso se tornar tão pesado – exclamou.

O velho soltou uma nova gargalhada e então olhando nos olhos de Igor disse:

- Igor, meu doce Igor! Não falo das frutas ou vegetais. Tão bem vê que não tenho nada disposto em meu balcão que possa lhe oferecer, mas mesmo assim eu o esperava. Agora te perguntas o que poderia eu lhe oferecer. Pois te ofereço a dúvida.
- Como assim a dúvida? Não estou entendendo nada do que falas.
- Pergunto-lhe outra vez. Será que tudo que carregas contigo é necessário? Não está na hora de abrir tua sacola e ver o que pesa e que faz teu caminhar ser tão dificultoso?
- Não seria custoso fazê-lo, mas ainda não entendo a razão de tudo isso.
- Igor, meu caro Igor! Tua sacola não tem espaço para o item mais importante que poderia carregar contigo. Uma especiaria que dará outro tom a toda tua vida.
- Que especiaria é essa? – perguntou Igor, agora curioso.
- Essa especiaria se chama Felicidade. – sorriu largamente o velho.
- Felicidade? Estas louco? Onde está essa felicidade que não vejo em teu balcão? – perguntou Igor em tom de deboche.
- Não Igor, antes fosse louco. A felicidade não está no balcão, pois não é ai que deva procurar. A felicidade está ao longo da caminho, em cada passo que dá, na direção que for. Mas você, meu caro Igor, tem abarrotado sua sacola com outras coisas, não deixando espaço para a felicidade. Por isso suas manhãs são cinzas, seus dias silenciosos e seus anos tão frios.

- Por isso, e apenas por isso, eu estava lhe esperando.

Igor fechou o guarda-chuva e deixou cair a sacola de suas mãos. As laranjas se espalharam pelo chão, mas ali, naquele momento, nada mais importava.

Igor agradeceu ao velho e foi ao cinema, chegando ainda em tempo de ver o final do filme. Na escuridão cortada pelas cenas tão bem delineadas, Igor chorou silenciosamente, encantando por tamanha beleza.

Na saída, dirigiu-se ao café onde fez questão de tomar um saboroso cappuccino. Na saída, pagou a conta, cumprimentou os presentes, lamentou os ausentes e prometeu a si mesmo jamais permitir novamente que não houvesse espaço para carregar consigo um punhado generoso de tal especiaria.

sábado, 18 de setembro de 2010

Lost & Found - Vol. 1 - descobertas do marinheiro Bob

Agradável descoberta foi feita pelo marinheiro Bob em suas investigações submarinas.

Ainda que não seja antigo, pode ser considerado um artefato de valor por suas qualidades.

É impossível ouvir White Winter Hymnal e não se sentir muito bem. 
Ela tem em si tons de um tempo perdido, algo nostálgico, amigável e convidativo.

Não é a toa que gostei, afinal, as influências diretas deles são bandas como Crosby, Still, Nash & Young, assim como Beach Boys.

Segue White Winter Hymnal...


White Winter Hymnal
I was following the pack
all swallowed in their coats
with scarves of red tied ’round their throats
to keep their little heads
from fallin’ in the snow
And I turned ’round and there you go
And, Michael, you would fall
and turn the white snow red as strawberries
in the summertime...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Nostalgie I

Nostalgie I
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

Hoje senti saudade das coisas
que já estão ficando antigas como eu
registradas em outras matizes, já envelhecidas
em velhas máquinas fotográficas
de um tempo em que
até meus amigos eram jovens

Hoje sentido saudade das coisas 
que talvez nem tenha vivido
mas que ainda estão tão frescas, tão vívidas
palpáveis em meus pensamentos
feito um algodão-doce
que teima em grudar nos dedos

Hoje senti saudades de tudo
Tudo, mas tudo mesmo...
de minha infância distante
que nessa hipérbole desvairada da vida
parece fugir de mim,
como que com medo da escuridão

Hoje senti saudades de coisas
que me acompanham por onde for
pois as trago comigo no peito
que, hoje, apesar de ferido, calejado
ainda persiste em guardar
fragmentos de felicidade.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Caminhada matinal

Nada como acordar cedo com uma vontade de querer ser melhor.
Hoje acordei assim, depois de uma terça pesada, acordei levemente feliz, levemente com frio, mas com a certeza que não adormeceria mais...
e após um café da manhã - coisa que também faz parte de querer ser melhor e feliz - fui caminhar.
Confesso que hoje está um dia lindo para tal atividade, como é possível identificar na foto que tirei ...
Vamos adiante... tenham todos um fantástico e maravilhoso despertar para novos dias!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Indiscreto Olhar

Indiscreto Olhar
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

Absorto em meus devaneios, 
por um instante tudo parei
e através da janela fitei
tal qual constelação
um céu de tantas janelas,
a brilhar em tantos edifícios.

E como no céu que a todos protege
algumas dessas estrelas
piscavam tão radiantes
as novidades em tantas telas
 enquanto outras menos brilhantes
nada no céu podiam mostrar

E na curiosidade própria de quem
por egoísmo puro, pretende relatar
tudo que se passa nessa vida mundana
por um instante, e, juro, nada mais
pensei comigo
o que faziam os moradores distantes 
dessas janelas-estrelas?

lamentavam quem se foi?
amavam alguém que ficou?
dançavam belles chansons?
sorriam tristezas, choravam alegrias?
viviam canções ou cantavam a vida?
em tons menos claros que lançam nesse céu...

 oh, brilhante céu estrelado!
me perco em tuas luzes
distraindo-me em um indiscreto olhar
que lancei sem querer
sem sequer perceber
que agora também sou
uma estrela a brilhar

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Tema de casa

Tema de casa do Be para o Colégio Sagrado Coração de Jesus:
fazer um poema de 4 estrofes de 4 versos cada sobre o dia da pátria.

Por Bernardo Bueno Hedlund & Alexandre Nicoletti Hedlund

Desde pequeno eu me lembro
de uma data para comemorar
foi no dia sete de setembro
que eu fui na praça desfilar

O sol brilhava tão forte
que mal se conseguia olhar
a banda da escola tocava
e todo mundo sabia marchar

eu já estava sem paciência
pois muito cedo tive que acordar
para o desfile da independência
que as nove ia começar

nossa pátria tão amada
hoje é uma grande nação
que foi homenageada
pelo sagrado coração

O Cortejo

O Cortejo
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

Enquanto o cortejo passava
ao fundo se ouvia Verdi
na marcha incessante de Macbeth
lutando contra a vil matilha
de perversos traidores seus

Enquanto o cortejo avançava
ao fundo se ouvia uma criança chorando
os aborrecimentos por ser criança
mas a mãe não lhe podia consolar
pois estava vibrante com o cortejo

 Enquanto o cortejo cantava
a multidão se entorpecia pelo insano marchar
e a cada passo adiante se fazia ouvir
de lado a lado dos prédios tão altos
que ecoavam ao longe, oh grande cortejo!

 Enquanto o cortejo dançava
com seus braços um mar infinito de mãos
a jovem senhora do outro lado da rua parou
recostando-se na parede de uma boutique
onde nunca pudera entrar, por temer os olhos dos outros

Enquanto o cortejo anunciava
o motivo de tanta alegria
a multidão que hoje ali estava
apenas seguia o cortejo
honrada por tudo ignorar

Enquanto o cortejo se arrastava
percebi um moço tão triste, cabisbaixo até
em sua roupa humilde, já suja e levemente rasgada
estampava-se aquilo que o cortejo 
por ser alegria e festa, preferiu ignorar

Enquanto o cortejo gargalhava
eu vi tal pobre moço chorar,
segurando sua vassoura na mão
aguardava o cortejo encerrar
para que assim pudesse limpar o lugar

E quando o cortejo cansar
dessa festa incontida que a todos só sabe chamar
os que hoje choram em silêncio
esquecidos nos cantos da rua
serão mais de mil guerreiros
todos sempre a desfilar

Mas até lá, aproveite o cortejo
que a todos só sabe encantar
pois não há fome, nem tragédia
não há tristeza ou imoralidade
não há crueldade que perdure
enquanto o cortejo passar.

sábado, 4 de setembro de 2010

o significado das coisas que talvez não signifiquem nada: transitando com Woody Allen

Por Alexandre Nicoletti Hedlund

 Uma conversa, a partir das leituras do blog....

- Você escreve muito bem!
- imagina, minha letra é horrível!


Fez-me lembrar de uma frase do Woody Allen, que, segundo ele, resume sua compreensão sobre os relacionamentos adultos.

- Que sopa horrível!
- exato, servem em porções tão pequenas! 

E assim, transito com Woody Allen...

Fique íntimo da história - sem comentários


Tinha alguns comentários sobre coisas que ouvi de Marx....
mas são apenas boatos campesinos...
Karl sabia o que fazia...
continuemos a luta, proletários unidos....

Na completude fragmentada do tempo

Na completude fragmentada do tempo
por Alexandre Nicoletti Hedlund


Há tanto tempo presente em meus pensamentos de agora
olhando pelo vidro não pouco sujo da janela
mas que ainda permite à luz já acinzentada
de um sol que já também cansou de aqui estar
penetrar sobre os móveis tão frios desse quarto.

Há tanto tempo perdido, com coisas que não tiveram sentido
para as quais não houve respostas
para as quais não haverá tempo talvez
mas que se permitem apenas existir
em cada olhar que se lança sobre a rua.

Há tanto tempo futuro que se distancia, como querendo fugir
e, embora a ausência seja a constante no lugar
ainda permite uma certa alegria, disfarçada e tão singela
que não acarreta mais que uma falsa sensação
do pretendido bem-estar, do bem-querer, a "quem-amar"

Há tanto tempo para tantas coisas
projetadas - na parede composta de quadros - pela luz do sol
não significando com isso mais do que sombras
que atravessam e contemplam a escassa chuva
que chega vinda de outros "tempos-lugares"
na completude fragmentada do tempo.