Que dia para um suicídio!
Por Alexandre Nicoletti Hedlund
Conforme o tempo passava, ao longo da noite
Chegou à constatação mais verdadeira
Que um poeta pode sentir
Pois, tendo secado seu pranto, sua dor
Resolveu-se, por certo, morrer
Mas como só se morre uma vez
É necessário se fazer tudo perfeitamente
Detalhe a detalhe cuidar
Sob pena de, assim não agindo,
Morrer de vergonha depois
Decidiu-se ao triste fim chegar
olhando carinhosamente seus erros
suas falhas, brigas e poucos acertos
e assim relutou em dormir
para contemplar o esplendor do céu
e adormeceu rendido pelo sono
que também quis lhe visitar
nessa última noite para se sonhar
mesmo que não dormisse muito, confessa
pois queria, o último dia, aproveitar
E que belo dia para ser o último!
Pensou consigo,
Um dia de amanhecer cinza
Mas que se enche de azul logo tão cedo
E merece ser vivido
E fez questão de caminhar pela manhã
Apenas para esticar um pouco as pernas
Depois, ligou para alguns bons amigos
Sem nada lhes dizer sobre o futuro
Mas falando carinhosamente a cada um
Depois ligou para sua mãe, para seu pai
Ao seu irmão deixou para mais tarde
Mas faria questão de falar com todos
Pelo menos um pouquinho
para guardar consigo a voz de cada um
na hora do almoço, preferiu ir à igreja
aproveitar um pouco daquela serenidade
que incrivelmente
só se encontra lá,
não importa o credo.
Porém, temeu, que ao chegar ao céu
Já tivesse perdido a hora da refeição
E, por isso, preferiu ir a um bom restaurante
Onde teve certa dificuldade em escolher o que por no prato
Afinal, morreria sem nunca ter comido “arroz chinês”?
E, após a refeição feita em silêncio
Na qual pode contemplar transeuntes
Rostos e rostos que por ele passaram
Viu uma menina beijar o rosto do pai
E sentiu que ali havia amor
Saindo dali, resolveu-se a ir para casa
E autorizado por si mesmo
Optou em dormir um pouquinho
Coisa mais boa, poder dormir depois do almoço!
Que dia!
Leu um pouco, refletiu sobre a vida
Trabalhou em algumas coisas suas
Desistiu de outras que não queria mais carregar
Tomou uma dose de seu whiskey preferido
E se sentiu bem, por aproveitar tão bem seu dia
E quando entardeceu, tomou um banho
Saiu caminhar e pode ver o sol se pôr
Depois foi conversar com algumas pessoas
Onde encontrou em gestos simples
A compaixão de querer bem, por simples querer
Por último, dirigiu-se ao seu templo secular
Onde queria se despedir da vida boêmia
E lá, cercado de uma festa inusitada
Em que só se poderia celebrar a vida
E dar risada da morte
Ele finalmente percebeu
A maravilhosa dádiva que foi
Escolher o próprio dia para morrer
E que realmente havia aproveitado tanto
Tantas coisas que lhe faziam bem
Que dia para um suicídio!
pensou embriagado de alegria
e diante de tantas coisas boas
feitas a partir das escolhas do dia
é que decidiu, simplesmente
fechou os olhos, e com os braços abertos
diante da janela entreaberta
sentiu o vento lhe abraçar
e pode agradece em silêncio
Obrigado Deus!
E foi então que percebeu o presente divino
que se constitui em uma coisa tão singela
O poder de escolher os caminhos
Que fizeram de seu dia amargurado
Um belíssimo dia de recomeço
Cheio de vida! - pensou consigo
E isso, fez toda diferença...
pois aproveitou cada instante
de cada dia, com cada pessoa
e apenas com coisas que lhe encheram de vida plena
e a morte? e o suicídio?
acalme-se, meu caro...
suicídio é a dúvida, trate de saná-la
morte? morre apenas quem não vive
jamais um transeunte indelével.
pois aproveitou cada instante
de cada dia, com cada pessoa
e apenas com coisas que lhe encheram de vida plena
e a morte? e o suicídio?
acalme-se, meu caro...
suicídio é a dúvida, trate de saná-la
morte? morre apenas quem não vive
jamais um transeunte indelével.
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