Uma rua chamada desilusão
Por Alexandre Nicoletti Hedlund
Não era outono ou a estação do amor
E o dia não tinha nada de especial
Sequer havia o pôr do sol dos amantes
ou a garoa fina dos que sentem saudade
mas aos poucos foi crescendo uma dor
e o instante se fez vendaval
distorcendo o sorriso dos passantes
levando cada pedaço de felicidade
entre seus dedos o pobre homem tentava segurar
o que apenas a ele debaixo do sol cabia
com todas as forças que ainda lhe restavam
defendia seu precioso coração
mas certos caminhos da vida não se podem evitar
e o tolo homem já não sabia
mas seus passos na escuridão lhe conduziram
para uma rua chamada desilusão
e então se notou sem rumo, perdido
e nada lhe parecia familiar ao redor,
seu corpo se arrastava pela rua sem fim
rompendo o silêncio com seus sapatos
e mergulhando naquela rua, desiludido
sentia-se estranho em olhos cheios de torpor
na boca o gosto amargo da traição carmim
sentia-se mais sujo que os ratos
recostou-se num banco qualquer
que aquela cinza tarde agora lhe ofertava
e notou ao seu lado uma rosa despedaçada
poética pintura abstrata na paisagem
distante viu uma moça com traços de mulher,
em um sorriso assim ela o convidava
na alcova de seu peito fazer morada
e tolo, ele creu naquela miragem
e o pobre homem assim continuava
mirando nas vitrines suas fraquezas
sem entender os erros do passado
sem entender como as coisas são e para onde vão
e a rua, assim como a vida, logo ali acabava
e agarrando-se novamente as poucas certezas
da paixão que agora haviam lhe arrancado
procurou dobrar a esquina, dessa rua desilusão.