segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ai de ti, Haiti!

É fato notório que no começo de 2010 um terremoto com 7 pontos na escala Richter atingiu o Haiti, nas proximidades de Porto Príncipe, a capital. Em pouco tempo, tudo virou pó.

“Do pó viemos e ao pó voltaremos”?
Literalmente!

Cerca de 80% da capital transformou-se em escombros e poeira, ao que se somam mais de 100 mil mortos e 3 milhões de desabrigados.

Ao longo do mês os abalos se repetiram mais algumas vezes com menor intensidade. (ontem, dia 24 de janeiro, mais um de 4,7 Richter abalou os arredores).

Diante da tragédia, o mundo inteiro se sensibilizou com o Haiti.
Surgiu até uma campanha de uma brasileira que não sei se vingará: “adote uma criança haitiana!” (Essa caridosa e humanitária brasileira deve desconhecer as crianças abandonadas no Brasil).
Mas, enfim, voltando ao que eu pensava....
Alguém já parou para se perguntar como era a vida desse povo antes do terremoto?

A resposta é, sem muito espanto, não.
Poucos países se preocupavam com o Haiti antes. A população do Haiti passa fome há décadas.
É uma população doente e pobre que não tem acesso ao mínimo de nada, quem dirá dos ditos Direitos Humanos.

Um giro pelo Haiti...

O Haiti é um país pobre da América Latina, com vários problemas e contradições. Faz divisa com a República Dominicana e tem em sua história um elevado número de revoluções e golpes, passando ora para as mãos francesas e ora para as mãos espanholas ao longo dos séculos XVII e XVIII. Vários governantes foram depostos ou assassinados e até os Estados Unidos já quiseram mandar no campinho (1915 a 1934). (Aliás, quando o Tio Sam não quis ser universalista???)

Após mais um período conturbado eis que assume Duvalier em 1957.
Qual a novidade? Nenhuma! Papa Doc era o cão!!

Criou uma nova política do terror no país com sua ditadura, sem contar que procurou despachar seus opositores e a Igreja Católica até 1971, quando morreu. Ai seu filho, “Baby Doc” assumiu e continuou a festa até 1986, quando decretou estado de sítio. Baby Doc fugiu pra França e deixou o país pra quem quisesse.

Muita gente quis. O final dos anos 80 e início dos 90 marcaram o país com novos golpes, nova intervenção americana e da OEA. A crise política sempre esteve acompanhada de crise econômica e por um conjunto de problemas sociais. A primeira década do século XXI também não foi nada agradável por lá.

O mito de Sísifo brasiliensis...

Em 2004, o Brasil recebeu uma tarefa interessante, digna dos trabalhos (punições) de Sísifo, ao assumir o comando da MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), da qual participam militares de outros países também.

Eis que muitos soldados brasileiros foram conhecer o Haiti e viram que a coisa é feia. O povo é faminto e a pobreza, doença, falta de saneamento, de luz, de água potável é o que impera, ou seja, há falta de tudo no Haiti.

Os soldados se defrontam com uma quantidade de pessoas desesperadas que aparecem aos milhares, tal qual conta a lenda de Sísifo que ao rolar a pedra morro acima, logo a encontrava no início novamente, essas pessoas imploram por comida e água, capazes de venderem seus próprios corpos – tão frágeis corpos.

Rolar a pedra de Sísifo era fácil perto desses trabalhos no Haiti.

O choro por quem partiu ou morreu...

Não há que se duvidar que os abalos configuraram uma perda incomensurável ao povo haitiano, assim como as famílias dos estrangeiros que foram vítimas do ocorrido. Hoje o caos está instaurado e muitos choram por não terem encontrado seus familiares em meio aos escombros. Para aumentar a dor, as buscas oficiais foram encerradas e os sobreviventes dormem nas ruas, sem teto, sem nada, apenas em volta de escombros e lixo.

A pedra de toque ...

A pedra de toque do que pretendo, singelamente, rascunhar é que de repente todo mundo viu no Haiti uma tragédia. Essa tragédia sinalizou ao mundo a fragilidade do país e agora o espírito humanitário paira no ar, sendo possível identificar um conjunto considerável de campanhas que tem arrecadado milhares e milhares de dólares a serem enviados ao Haiti.

Ouso dizer que, diante do histórico de miséria típico dos países latinos, esse terremoto talvez seja a melhor coisa que aconteceu ao país, pois a ajuda externa poderá construir verdadeiramente um país, por meio de um plano de desenvolvimento que considere também os excluídos, construindo políticas de gestão pública efetivamente participativas e, potencializando, quem sabe, o fomento a algum tipo de campo industrial para o país. É uma perspectiva, ainda que a outra seja o caos completo, tornando o país insustentável e incontrolável novamente, ou, lembrando de Osvaldo de Rivero, uma Entidade Caótica Ingovernável.

Nessa esteira, outros países latino-americanos já estão rezando para que os tremores ocorram em seus territórios, pois assim, quem sabe, a Europa mande ajuda financeira e os cantores “pop” façam shows em benefício das vítimas.


É Haiti, ai de ti.... viraste exemplo para os demais.
Quantos desejam também chorar seus filhos, como tu fizeste Haiti...

Ai de ti...

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*Esse pensamento não é uma defesa aos bens materiais em descuido ao ser humano, mas, muito antes disso, é uma provocação que deixo justamente sobre essas duas medidas.

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