segunda-feira, 25 de março de 2013

O (Des)encantamento - Por Alexandre Nicoletti Hedlund 



Encanta-me o século XXI em sua volatilidade e tecnologia atemporal. Provavelmente enquanto reflito sobre isso, já existem novos modelos de tantos utensílios e aparatos que não permitem uma escolha segura. Um tem uma função que o outro não tem. Há uma certa insegurança até mesmo com relação a compra, pois compra-se sabendo de sua - já - descartabilidade. 
Encanta-me o século XXI em sua multiplicidade de informações, o que parece eximir a caminhada pelo conhecimento. Enebriados que somos por essa pluviométrica informativa que nos molha, mas não permite o germinar de pensamentos mais profundos. Evoca-se terras fecundas, mas o que se percebe é terreno árido, do qual brotará pouca coisa. 
Encanta-me o século XXI em sua surpreendente filosofia instantânea que dispensa a veracidade e o folhear de um livro. Não há necessidade de ler um livro do qual se extraia um pensamento, visto que rapidamente se pode achar uma citação específica que faça sentido para toda uma vida, pelo menos naquele minuto. 
Encanta-me o século XXI na repentina resposta para tudo, presente em conselhos e soluções "près-à-porter" para as quais não nos encaixamos, o que nos obriga a rever as perguntas, pois, o oráculo da modernidade, ou pós modernidade como sinalizam alguns, não pode estar errado. A dúvida recai sobre a pergunta, sempre falha, jamais sobre as respostas. Nos resta o molde e a resignação em não nos moldarmos as exigências de uma ditadura que se anuncia. 
Encanta-me o século XXI em sua ditadura da felicidade presente nas pílulas que muito lembram a SOMA. Admirável mundo novo esse que me encanta, tanto quanto os marinheiros de Ulisses seduzidos por Circe. E nesse cenário, temo por não ser digno de receber de Hermes um broto da erva que me faça resistir a tais encantamentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário