sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011

2011 está aí e não vou fazer grandes comentários...

devido a uma pane no blogspot não consigo descobrir quantos corajosos tem acessado o blog...
de qualquer forma não tive muito tempo para redigir poemas, devaneios e terminar meu conto.

Muitas ideias e histórias/estórias surgiram e estão armazenadas em minha cabeça, além de rascunhos e mais rascunhos do que tenho ouvido das pessoas que encontro, transformando e lapidando tantos transeuntes em personagens.

Aos que se interessarem pelos próximos passos deste humilde transeunte, aguardem, pois 2011 promete muitas novidades.

Ok, isso é de praxe, imaginar que tudo que não se resolveu nos anos anteriores, resolver-se-á no que se inicia adiante, mas confesso, que estou mentalizando energias positivas para tal tarefa.

Para mim, pelo menos, espero que seja fantástico. Para vocês? que também seja, pois não dá pra desejar coisas boas só pra gente, é necessário ser humano, solidário, caridoso, e compartilhar a alegria e afastar a tristeza de nossos semelhantes.

Abraços e que venha 2011.

Alexandre.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Presente

O Presente
por Alexandre Nicoletti Hedlund
Que presente é esse que tu gastas com tolices
que se reduz a esperar o futuro
que se corrói em viver do passado?

Que presente é esse que passa em silêncio
enquanto te preocupas com coisas que não se resolvem
sem que tu resolvas mudar o ponto de perspectiva?

Eu lhes digo, meus caros, é um presente pequeno...
é algo para ser trocado na grande loja da existência...
e é pequeno no sentido do menosprezo
do pouco valor que lhe agrega na vida

Por isso, reveja, antes de sair da loja
qual presente pretende carregar contigo
dê valor as pessoas e respeite-as
caridosamente, humanamente

Alguém disse que somos a imagem
de um ser superior, e fizeram-nos crer nisso
Creio que somos mais que imagem
somos o som, o olhar, os gestos

ousadia? desaforo?
Não, de forma alguma...

Acho que temos poder e força para ser igual ao Pai celestial
quando fazemos o bem para as pessoas, nos conectamos com essa força superior
Nessa situação, somos imagem e semelhança
do contrário, somos apenas pó, cinza, e nada mais...

Por isso, reveja, antes de sair da loja
se escolhestes com sabedoria o presente
pois o futuro não te pertence, o passado já não lhe está nas mãos
tens apenas o presente, dádiva incomensurável
desde que saiba aproveitá-lo e transformá-lo

Aceita o presente, presente nesse devaneio,
pois lhe ofereço apenas a dúvida...
as certezas encontrarás em teu coração.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Réquiem para Joaquim - Capítulo VII

Após algum tempo sem tempo para escrever, resolvi retomar a história de Joaquim. Faltam ainda 3 capítulos que pretendo fechar até o final do ano. Espero que gostem e peço a gentileza de comentarem, pois é bacana ler os comentários dos amigos, seja pelo msn, pelo email ou por aqui. Abraços, Alexandre.

VII – Paris tem dessas coisas, coisas que talvez só aconteçam em Paris
Por Alexandre Nicoletti Hedlund

As poltronas velhas de couro marrom, confortavelmente, recepcionaram Guilhermo e Colombo que, lado a lado, me olhavam em silêncio contemplativo. Para mim era estranho ver Guilhermo depois de tanto tempo, com sua respiração cansada, um bigode espesso, uma calvície proeminente, mas olhos vivos, como se ainda tivesse vinte e poucos anos - olhos de aventureiro. Fui tomado por tamanha alegria em tê-lo na minha frente, que não conseguia achar palavras que fizessem sentido. Ficamos assim, em silêncio por um tempo, observando cada mudança que o sábio passar dos anos havia produzido em nossos rostos e mãos, até que – por coisas que não se pode explicar – uma grande gargalhada irrompeu o silêncio, como se tivéssemos lembrado da mesma coisa ao cruzar os olhos.
Guilhermo então se recostou melhor na poltrona.
- Joaquim, meu irmãozinho, que vida hein!! Você lembra quando Mercedes fez aquela festa surpresa?
- Como esquecer, Guido? Como esquecer. Você com cara de bebê assustado quando todos apareceram no seu quarto, e o susto de todos em ver você só de cueca?
Rimos e choramos, lembrando de tantas lembranças doces do passado, de um passado sem maldade, mas no fundo eu sentia e nunca pude lhe confessar, queria tanto Alicia comigo. Como um bom amigo, Guilhermo sempre soube disso e, respeitosamente, preferiu nunca atestar algo tão latente.
Colombo ao meu lado acompanhava tudo, como se estivesse conhecendo finalmente um Joaquim que viveu, que amou, que lutou e que com o tempo se resignou em ser só. Pude ver em seus olhos, ainda que não tivesse dito nada, que ele me admirava e queria que eu retomasse tal vida.
- O que lhe traz aqui? – perguntei a Guilhermo, pois passada a emoção inicial, a razão exigia um convencimento para tal visita.
- Preciso de você. Fui convidado a participar de um projeto em Paris e preciso de um engenheiro como você.
- Paris? Não posso ir. – disse rispidamente, ainda que não fosse a intenção ofendê-lo.
- Irmãozinho, o tempo passou, o outono se aproxima e quero você ao meu lado.
- Não Guido, não vou. – respondi agora em um tom sério.
- Joaquim! – Guilhermo me olhou com certa repreensão – Você vai!
- Guido, você sabe que eu e Paris não combinamos, eu nasci para viver nesse samba-bossa nova sempre triste.
- Há bossa nova em Paris, ou você se esqueceu de Baden? - Rimos (ele largamente, eu meio nervoso).
Confesso, meus caros, que meu coração atônito sofria com o simples sussurar: “Paris”!
- não posso ir e ponto final. Tenho compromissos por aqui, tenho Colombo que depende de mim, muitas obras para olhar, minhas plantas para regar, meu jardim para organizar, um projeto na zona sul para iniciar. Ou seja, não posso, e não insista. Olhe Colombo! Como vou deixar ele aqui?  – Colombo olhou reprovando minha fala, em uma postura típica de defesa de Guilhermo.
- Eu lhe devo essa, meu irmãozinho! Você precisa se livrar dos demônios que lhe deixam tão triste, eu lhe devo isso!
- Você não me deve nada, não seja tolo, Guilhermo! Se eu ajudei você em algum momento, foi por amizade, jamais por contrapartida e você sabe.
Lembrei-me de quando eu havia retirado Guilhermo da cadeia em Maracaibo. Das dificuldades para conseguir o dinheiro da fiança e a alegria dele em me ver na rua.
- Eu sei, por isso lhe peço perdão por insistir nisso, mas preciso de você. Salve-me outra vez, talvez a última.

Levantei e servi duas boas doses de whiskey. Entreguei a dose de Guilhermo em sua mão e pedi um tempo para refletir, indo até a sacada. Meu olhar se lançou no horizonte daquela cidade quente, que sem muito vento apenas produzia mais calor. Quando a dose tivesse terminado, esperava ter uma resposta para ele. E como se fosse um oráculo, no final da dose tive uma visão do que deveria ser feito.
- Tenho uma condição, Guido! Apenas uma.

Duas semanas depois aterrissamos em Orly.
Eu ainda estava desconfortável por voltar depois de tanto tempo, mas olhando ele com seu caminhar elegante, me senti na obrigação de rir. Paris parecia seu lar, sua pátria e a cada “bonjour” ele fazia um gesto cordial com a cabeça.
- Você é uma figura Joaquim!! Trazer o Colombo junto! E eu louco, por aceitar! – Guilhermo completou meu pensamento, enquanto caminhávamos em meio aos plátanos do Champ de Mars.
Colombo continuava elegante, em sua marcha, cumprimentando os transeuntes.
Sentamos em um banco e a atmosfera parisiense fez seu trabalho, incrustando em meu peito um sentimento perdido no tempo, um conjunto de memórias perdidas, uma bossa nova que teimava em tocar e a lembrança de Sophie.
Guilhermo, sábio por sua própria natureza, chamou Colombo para o gramado e permitiu que, em silêncio, eu vivesse novamente Paris. Sentado naquele mesmo banco, pude ver Sophie se aproximar com seus olhos verdes e um cachecol cinza que apenas desenhava seus cabelos castanhos no vento.
- Ma petite fleur! O que você traz escondido de mim?
Sophie ria o sorriso mais puro que eu vi em toda a vida e, agarrado em tal memória, quase senti encostar seu braço.
- Ma douce! - Ela respondeu – eu não tenho nada nas mãos!
- Sophie, seus olhos não me enganam! Que surpresa você tem ai? – ríamos o apaixonamento.
- Joaquim, seu bobo! – aquele português mal falado, respingado de um francês tão lindo, me corta a alma até hoje, apenas por estar na lembrança!
Sophie passou a mão em meu rosto coberto por uma barba rala que teimava em se fazer presente, enquanto a neve tornava Paris uma pintura digna do Louvre. Levantei e fui em sua direção, enquanto ela apenas tentava não sorrir sua arte e esconder as mãos. Mas tomada por um sentimento maior, não se conteve e me abraçou e nos beijamos protegidos pelo fim de tarde, enquanto ao longe se ouvia um jazzista de rua, desses que não deram certo, mas que cintilava um Stan Getz tão verdadeiro desses de se querer viver.
Aproveitando sua encantadora distração, peguei de suas mãos o objeto secreto. Eram entradas para uma apresentação de Luiz Bonfá. Embora eu admirasse a beleza da música dele, Sophie parecia mais animada ainda. Os franceses sempre amaram a bossa nova.
Enquanto eu a agradecia com um carinho em seu rosto levemente gelado pela neve, ouvi um latido muito familiar.
O sonho se dissipara em meio ao latido de Colombo. O vento gelado daquele final de tarde de outono me trouxe a triste realidade. Colombo sem muito entender, parecia me alertar que o relógio não havia parado de seguir sua eterna marcha para que eu pudesse me recompor de minhas fragilidades, derrotas e tristezas. Pelo contrário, parece ter me jogado para um futuro que não foi planejado ou que não foi organizado para assim acontecer.
- Como foi? – perguntou Guilhermo, admirando-me ao longo de todo esse tempo.
- Foi doce e perfumado como uma flor, a minha petit fleur. – respondi em meio a algumas teimosas lágrimas.
- Talvez ela não...
- Vamos embora, vamos para o hotel! – cortei rapidamente as hipóteses de Guilhermo ao tempo em que limpava meu rosto.
- Mas Joaquim, isso não é certo! Talvez ela tivesse culpa!
- Guido, não seja tolo, homem! Ela não foi! Eu esperei por ela tanto tempo, e ela nunca mais apareceu! Ela me deixou, abandonou o amor que eu quis lhe dar.
- Meu irmãozinho, meu caro Joaquim! Muitas coisas podem ter acontecido! Ela pode ter...
-Esqueça Guido! Não vim até Paris para lembrar de Sophie!
- Mas Joaquim! Talvez tenha sido um desentendido!
- E você acha que eu não pensei ao longo de todos esses anos, em várias coisas que pudessem explicar Sophie não ter mais aparecido! Eu pensei demais e sofri demais, e por isso não queria vir, pois sabia que esse turbilhão de pensamentos sobre ela voltaria! Por isso eu não queria vir.
- Mas Joaquim...
- Sem “Mas...”, Guido! vamos para o hotel!
E, assim, fomos, os três, para o Hotel Cluny Sorbonne. O taxista não estava com um cara muito amigável, mas um dinheiro extra fez Colombo se sentar confortavelmente, enquanto o homem dirigia seu carro pela noite de Paris, resmungando alguma coisa e cortando as preferenciais.
O Quartier Latin tivera uma aura tão linda no passado, mas hoje se rendia ao consumismo dos turistas. Era uma pena, mas Paris ainda é Paris, mesmo com tantos turistas, e, por isso, fiz questão da hospedagem ser ali, pois ficava próximo ao Jardim de Luxemburgo e Colombo precisava passear todas as manhãs para manter-se forte.
Liguei para a recepção do hotel e pedi uma chamada para o Brasil. Não sei dizer o porquê, mas precisava falar com meu irmão. O telefone tocou até cair a ligação. Infelizmente, pelo menos para mim, Victor não tinha telefone celular. Ele era desses professores de história que não aceitava tal tecnologia. Acho que no fundo ele estava certo, pois não se deixava prender pelo aparelho.
Conforme o tempo passava comecei a achar estranho que nossa adaptação a cidade envolvesse pontos estratégicos que Guilhermo sabia me lembrariam Sophie. Foi no terceiro dia que constatei que ele havia me enganado. Não tínhamos nada para fazer em Paris, a não ser um reencontro com meu passado.
Colombo acompanhava a vida pela janela do quarto enquanto eu me dirigia a um banho quente. Achei engraçado ver ele tão bem, como se estivesse em casa e com seu olhar ele agradecia pelo passeio. Na verdade eu não cogitei deixá-lo, pois sua idade já começava a lhe pesar.
A água caía sobre meus ombros. Fechei os olhos e comecei a cantarolar uma bossa nova apenas para relaxar. Eu estava cada vez mais tranquilo quando ouvi um sussuro, como se fosse em meu ouvido: “Eu não lhe deixei, ma douce”.
Abri os olhos assustado e estava sozinho, ouvindo apenas o barulho de meu coração que quase saltou pela boca. Fechei os olhos novamente na esperança de outra vez ouvir aquela voz, mas nada aconteceu.
Aquele pensamento percorreu minha cabeça durante a semana inteira e no final dela estávamos voltando ao Brasil. Era Sophie, eu sabia, tinha certeza. Mas afinal de contas, o que significava isso? Estaria, depois de tudo, agora louco?
Era sexta-feira e tínhamos fechado nossa estadia no Cluny. Minhas malas já estavam no táxi. Lembrei de voltar ao quarto apenas para pegar um livro de Rimbaud.
Estranhamente o livro estava aberto, disposto sobre a cama que eu ocupara ao longo do tempo. Aproveitei o hábito que tinha desde criança de tudo olhar, tudo querer ler, mesmo que fossem segredos alheios. (Desculpem meus caros, é um hábito feio, podendo até ser mal interpretado, mas é um hábito que carrego desde a infância, não se podendo evitar, assim como não se evita a respiração).
Nessa disposição estava o poema[1]:
Pas les beaux soirs d’été, j’irai dans les sentiers
Picoté par les blés, fouler l’herbe menue:
Rêveur, j’en sentirai la fraîcheur à mes pieds:
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.

Conforme eu ia lendo, comecei a escutar novamente o sussuro, cada vez mais alto e vivo. Parei por um instante e fechei meus olhos. Foi como sentir Sophie em minha volta, sua respiração tranqüila que se acelerava perto de mim. Seu cheiro, seu gosto, era algo que não poderia explicar, tão forte a sensação que eu experimentava agora.

Abri meus olhos, em meio a lágrimas, e ouvi Sophie recitar os últimos versos de Sensation:

Je ne parlerai pas, je ne penserai rien…
Mais un amour immense entrera dans mon âme,
Et, j’irai loin, bien loin; comme un bohémien
Par la Nature, — heureux comme avec une femme!

Senti o beijo de Sophie em minha fronte, como que me desejando um bom retorno.
Era chegada a hora de partir, mas, de alguma forma eu sabia, que ainda voltaria. Algo dizia que eu deveria voltar. Estranho pensar assim, eu que sempre fui tão cético, agora acreditando em sinais, em bons presságios. Tive de rir sozinho, olhando pela janela, o taxista resmungava por não querer Colombo em seu carro. Guilhermo afinava uma discussão em francês. Acho que ele precisava mesmo da minha ajuda. Desci o elevador com um ar muito tranquilo. Pensei comigo, Paris tem dessas coisas, coisas que talvez só aconteçam em Paris.


[1] Nas belas tardes de verão, pelas estradas irei,
Roçando os trigais, pisando a relva miúda:
Sonhador, a meus pés seu frescor sentirei:
E o vento banhando-me a cabeça desnuda.
Nada falarei, não pensarei em nada:
Mas um amor imenso me irá envolver,
E irei longe, bem longe, a alma despreocupada,
Pela Natureza — feliz como com uma mulher.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

hoje caiu uma chuva digna de um poema...

hoje caiu uma chuva digna de um poema...
por Alexandre Nicoletti Hedlund


hoje caiu uma chuva digna de um poema...
e pensei se o poema já estava escrito antes da chuva
ou a chuva havia pedido um poema...

ainda não me decidi, mas apreciei a chuva, como se ela fosse o poema.